" O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré foi fundado no dia 1 de Setembro de 1983, com o propósito de defender os usos e costumes dos nossos antepassados, isto é, dos que habitaram as Gafanhas desde o séc. XVII..."
terça-feira, 30 de junho de 2009
50º Aniversário do Rancho Folclórico de Gouveia
domingo, 28 de junho de 2009
Origens do vocábulo "Gafanha" (parte III)
sexta-feira, 26 de junho de 2009
A história do Grupo Etnográfico (parte VIII)
quinta-feira, 25 de junho de 2009
As Gafanhas antes da Ria - 2
Mesmo a agricultura estava bastante ligada à Ria, pois era lá que se ia buscar o moliço para estrumar a terra, o junco para servir de cama aos animais e até as lamas que ajudavam e muito, nas regas, pois os terrenos arenosos absorviam a água e era necessário “forrar” os regos por onde esta corria, para que não se perdesse e chegasse onde o lavrador pretendia.
Socialmente, existe nesta zona uma grande mistura de pessoas; aqui se juntaram gentes de vários pontos do nossos pais, pois vinham aqui encontrar o que não havia nas suas terras de origem – trabalho e por consequência melhoria das condições de vida. Como resultado, temos que, as pessoas das Gafanhas sofreram influências de outras gentes, razão pela qual se modificaram certos hábitos, como por exemplo a maneira de vestir, ou mesmo a linguagem, originando uma terra com uma maneira muito própria de viver, que não tem comparação com a de qualquer das localidades vizinhas, nomeadamente Ílhavo e Aveiro.
Após esta pequena apresentação das Gafanhas, será de certa maneira pertinente colocar no ar a seguinte questão:
Se as Gafanhas estavam tão intimamente ligadas à Ria, como seriam antes da Ria?
Ou posta a questão de outra maneira, será possível imaginar as Gafanhas sem a “companhia” das Águas da Ria?
É isto que vou tentar explicar de seguida.
E vou começar por falar um pouco sobre como terá surgido o nome Gafanha.
Muitas hipóteses se levantaram, umas com mais credibilidade, outras com menos; umas que se foram mantendo durante vários anos, outras que foram imediatamente postas de parte, por se ter chegado à conclusão que eram totalmente inverosímeis.
(Continua)
Boas leituras
Rubem da Rocha
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Praia da Barra
Grupo Típico de Danças e Cantares do Afonsoeiro
É já no próximo sábado, dia 27 de Junho, que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré se desloca ao Montijo, a convite do Grupo Típico de Danças e Cantares do Afonsoeiro. Vamos participar no Festival de Folclore Cidade do Montijo.
O programa é o seguinte:
18:00 horas - Chegada e recepção
18:45 horas - Jantar
20:15 horas - Trajar
21:00 horas - Festival
Participam neste Festival os seguintes Grupos:
Grupo Típico de Danças e Cantares do Afonsoeiro - Montijo
Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré
Grupo de Danças e Cantares da Feira - Santa Maria da Feira
Grupo Folclórico de Danças e Cantares de Fonte da Senhora - Alcochete
terça-feira, 23 de junho de 2009
Augusto Gomes dos Santos
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Origens do vocábulo "Gafanha" (parte II)
domingo, 21 de junho de 2009
As Gafanhas antes da Ria -1
Este trabalho foi apresentado no quinto colóquio da Murtosa e posteriormente transcrito no livro do 10º Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré em 1994.
Espero que gostem.
Quando o Grupo me propôs apresentar este tema, pensei um pouco com os meus botões e achei que, à primeira vista, seria um assunto sem ponta por onde se lhe pegar. Mas, depois de reflectir algum tempo e de ter consultado algum material que tinha ao dispor, comecei a verificar que era possível obter algo com interesse para vir apresentar a este colóquio.
Irei começar por situar geograficamente a zona das Gafanhas. É uma zona que, como podem observar na fig. 1, começa na Gafanha da Nazaré e termina já bastante perto de Mira, na Gafanha do Areão. Abrange por isso dois concelhos: Concelho de Ílhavo, do qual fazem parte as Gafanhas da Nazaré, Gafanha da Encarnação, do Carmo, da Boavista e de Aquém.
Por sua vez, no Concelho de Vagos, ficam as Gafanhas da Boa Hora, da Vagueira e do Areão. Pode considerar-se esta zona como sendo uma península, já que se encontra rodeada de água por todos os lados, excepto por um, que é precisamente aquele que dá ligação para Vagos e Mira.
(Continua)
Boas leituras
Rubem da Rocha
sexta-feira, 19 de junho de 2009
A história do Grupo Etnográfico (parte VII)
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Apontamento sobre o Gafanhão e a areia – 6
Fisicamente mesmo, não se encontram no Gafanhão os traços das restantes povoações ribeirinhas. Não se lhe nota aquele olhar atirado para longe que existe no rosto dos homens de Ílhavo, mais amantes do mar alto, embora vivendo mais longe da costa. Nem mesmo há no Gafanhão a desenvoltura e a viveza do seu vizinho murtoseiro.
Mas o que fundamentalmente caracteriza o homem da Gafanha é a sua psicologia de pessoa prática, mais dada aos interesses do solo que à nostalgia do além do mar, com que sonham em última análise os restantes homens da beira da laguna.
Enquanto o Ilhavense andou ao deus dará pelos sete mares do mundo, cortando rotas, descobrindo terras, visitando praias, foi-lhe na alma gerando como que uma névoa de saudosismo sentimental que deixou aos filhos e aos netos por hereditariedade.
Mas, enquanto isso, o Gafanhão lutou em terra, prosaicamente, dentro de limitados horizontes, no fito de uma construção definida. Moldou-lhe esta circunstância um espírito pragmático, sempre tendo em vista uma finalidade útil e imediata, em vez de um vago ideal de partir a correr mundo, sem saber para quê, como as gaivotas do mar.
O homem do mar luta com os elementos, porque o seu fundo temperamental de poeta o faz instintivamente descobrir na luta quanta beleza existe no esforço titânico do vencedor das ondas e do vento. O Gafanhão, homem de terra, luta sem tréguas, teima e vence, é pertinaz, laborioso e indomável, porque da sua luta surgirá o pão que é para ele a primeira condição da vida.
Por isso, enquanto Ílhavo e Aveiro são hoje terras pobres, embora com poemas de heroicidade escritos nas rotas de um milhão de barcos que tem sulcado as ondas de todos os mares, a Gafanha é simplesmente um celeiro cheio, uma grande arca de pão.
O Gafanhão pretendeu apenas bastar-se, arrancar alimento da areia, ser útil. Não tem consciência da epopeia magnífica erguida em três gerações, com suor e enxadas, à sombra da proa recurvada dos seus moliceiros. Mas nem por isso é menor o seu mérito. Nem por isso a sua Gafanha, a Gafanha que ele fez sozinho, (contra tudo e contra todos), nem por isso a sua Gafanha deixa de ser um triunfo monumental que aí temos a atestar ao Pais e ao Mundo que o braço do homem continua sendo, a grande alavanca da criação e que em boa verdade vence quem teima, porque a fé revolve montanhas. Texto retirado do Arquivo do Distrito de Aveiro – Volume IX de 1943, de Joaquim Matias.
Depois de terminar a transcrição deste texto, gostaria apenas de relembrar, pois penso que também o notaram, na forma simples e melodiosa, de como o autor fez a narração da criação da nossa Gafanha.
Em certas alturas chegou a ser mesmo como que poética, mostrando-nos um Gafanhão persistente, com grande força de vontade, nunca virando a cara à luta. Um Gafanhão que semeava e após a natureza destruir, voltava a semear, tantas até conseguir ter sucesso.
Depois desta descrição neste texto e de toda a história que conhecemos, ninguém deverá ter vergonha de ser Gafanhão e deixar de vez com a persistência de outros nomes.
domingo, 14 de junho de 2009
Origens do vocábulo "Gafanha" (parte I)
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Tomás Ribas
Na área do Folclore e da Etnografia publicou: Danças populares portuguesas, Danças do povo português, Introdução ao estudo das danças populares de Cabo Verde, Introdução ao estudo das danças da África Portuguesa, O Teatro popular de São Tomé e Príncipe, O Tchiloli - Teatro clássico popular de São Tomé e Príncipe, Aspectos da etnografia e do folclore da Nazaré, Guia de recolha de danças populares, O Teatro popular tradicional português, Monografias da dança folclórica da Europa, Danças populares tradicionais portuguesas, Tentativa de uma classificação das danças populares portuguesas, Bosquejo histórico das danças tradicionais portuguesas.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
A história do Grupo Etnográfico (parte VI)
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Apontamento sobre o Gafanhão e a areia – 5
Uma população numerosa e trabalhadora conquistava com a sua enxada o areal desértico e realizava, à custa de um esforço hercúleo e de uma persistência sobre-humana, um grande sonho que havia sido sonhado pelo primeiro Gafanhão que na hostilidade da areia construíra um dia a sua cabana e plantara as primeiras couves.
Principiaram a vingar as searas de milho e feijão. Veio a batata depois, o grão-de-bico, a melancia e a cebola. E uma torrente de fartura manou da terra para as caixas do Gafanhão.
Chegaram negociantes em seguida, à compra dos géneros, e deixaram dinheiro. Para absorve-lo, vieram as lojas e os homens de negócio com relações em outros centros. Metade dos braços que haviam conquistado a areia à improdutividade era agora dispensáveis e emigraram para a América, donde alguns voltaram ricos.
Então o Gafanhão abriu através da areia estradas que asfaltou, por onde rola o seu automóvel de “novo-rico”. Se é proprietário, construiu à beira da estrada o seu palacete e mandou o filho a Coimbra formar-se. Formou sociedades de pesca de bacalhau, construiu estaleiros, fez navios, recrutou pescadores entre os Gafanhões mais pobres e mandou-os à Terra Nova e Gronelândia.
Hoje é a Gafanha um solo riquíssimo, arca de pão nacional que exporta centos de toneladas de todos os géneros para regiões de terra ingrata, onde o trabalho não frutifica.
É um milagre de esforço e de persistência de um rude camponês desconhecido cujo trabalho é uma epopeia grandiosa. É um monumento de triunfo de um homem teimoso que lutou e venceu, ganhando uma vitória tão deslumbrante, quão fantástica foi a luta que sustentou sem desânimo nem fraqueza de espírito.
Aliás, o Gafanhão continua sendo ainda hoje o que ontem foi: persistente e fechado consigo, empreendedor e quase nada comunicativo. No ambiente que a si próprio se criou, foi modelando um carácter de homem só, de lutador que sabe até onde contar consigo, e em pouco se fia do auxilio que possa advir-lhe de alguém ou de algures.
(Continua).
Texto retirado do Arquivo do Distrito de Aveiro – Volume IX de 1943, de Joaquim Matias.
terça-feira, 9 de junho de 2009
Grupo Folclórico de Gumirães
A história do Grupo Etnográfico (parte V)
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Cidade de Viseu (II)
Estas são constituídas por ouro, pedras preciosas, combinadas com as mais requintadas peças eclesiásticas como o pluvial (bordado a ouro). Estão presentes também, peças trabalhadas ao pormenor com um grande valor histórico como é exemplo a Custódia do Gótico Flamejante. Um detalhe importante a salientar é a presença de fragmentos de crânio de Santa Ursula.
Assim, o Museu de Arte Sacra apresenta inúmeras peças de valor histórico e cultural. Para o claustro alto abre-se hoje o Museu de Arte Sacra (O Tesouro da Sé ou Relíquias da Sé), valioso escrínio de preciosíssimas peças que estiveram ligadas ao culto. O seu espaço interior renovado no séc. XVIII a partir da chamada Casa de S. Teotónio é constituído pela casa Capitular em que merece particular interesse o lambril de azulejos de Coimbra (Oficina de Agostinho de Paiva), a Sala do Cartório com um singular núcleo de paramentaria e o andar alto da Torre do Relógio. Este espaço guarda um verdadeiro tesouro constituído por uma caixa de madeira, românica, do séc.XII, com a pintura de uma poética cena de cavaleiresca, um precioso Evangeliário do séc. XII, dois cofres-relicários, de Limoge do séc. XIII, a custódia da prata dourada que D. Miguel da Silva ofereceu à Santa Sé em 1533 e um cálice de prata dourada, de 1620, oferecido por Estêvão Gonçalves Neto e muitas mais raridades. Vale a pena ir ver. Nós já fomos…
Cidade de Viseu (I)
A construção do grande edifício viria a arrastar-se por largo tempo, por efeitos adversos, por exemplo, o mortífero e devastador surto epidémico de 1310 (Peste Negra), e destruições provocadas na cidade e região por sucessivas incursões castelhanas no tempo dos reis D. Fernando e D. João I. Mesmo assim, ainda que incompleta, foi na Sé que os moradores da cidade perseguidos pelo inimigo de além fronteiras, encontraram refugio que o desbarato castelo já não lhes podia dar.
Assim, temos fundamentalmente o estilo românico-gótico, Gótico, Manuelino, Renascentista, Barroco e também a modernidade, na arrojada expressão do novo altar mor. A actual Catedral de Viseu é um edifício gótico, fortificado, dos séculos XIII-XIV, ao qual diversas obras das centúrias seguintes deram a fisionomia inconfundível que, nos nossos dias, apresenta. A Sé de Viseu é um monumento de “nobres proporções”, notável entre os seus congéneres portugueses.
Internamente é uma igreja de três naves, divididas em três tramos e um transepto, havendo para além deste uma profunda capela-mor levantada no séc. XVII para substituir a capela-mor românica que o tempo de Grão Vasco enchera de belíssimas pinturas. Os arcos divisórios são apoiados em grossos pilares, formados porfeixes de doze colunelos, assentes por sua vez, em largas bases manuelinas, modificadas na Grande Vacância de 1720-1741.
Uma das mais originais abóbadas construídas em Portugal cobre as três naves desta igreja-salão. Mandou-a edificar o bispo D. Diogo Ortiz de Vilhegas que foi do Conselho do Rei, ficando terminada em 1513. Oferece uma impositiva imagem de gigantescas cordas que se atam num vigoroso nó central, alusão fácil à epopeia dos descobrimentos que então se vivia. É a Abóbada dos nós. A abóbada que suporta o coro alto deve-se sem dúvida ao arrojo de João de Castilho, grande mestre dos Jerónimos.
O retábulo da capela-mor, joanino, é preciosíssima obra do arquitecto de Lisboa, Santos Pacheco, sendo do séc. XVIII também os altares colaterais que receberam excelente imaginária atribuída à oficina de Claude Laprade A Sacristia, de D. Jorge de Ataíde, é um verdadeiro núcleo museológico com o seu revestimento azulejar e a pintura do tecto.
Na fachada exterior, as duas torres lembram o românico original, mas apenas a torre da direita vem do tempo Dionísio da fundação, o séc. XIII. A outra foi levantada do chão no séc. XVII. Havia sido derrubada em 1635 por um fortíssimo temporal que fez arrastar com ela a fachada manuelina, de uma grande beleza, como escreveu o cronista da cidade, Botelho Pereira, em 1630. Depois disso o arquitecto salamantino João Moreno levantou com sobriedade a presente fachada que sugere retábulo maneirista de três balcões sobrepostos, em cujos nichos laterais se resguardam os quatro evangelistas, S. Marcos, S: Lucas, S. João e S. Mateus, deixando ao centro a Senhora da Assunção e S. Teotónio
sábado, 6 de junho de 2009
Apontamento sobre o Gafanhão e a areia – 4
Foi preciso recomeçar pacientemente. Foi necessário enterrar moliço muito ao largo, tentando prender com húmus a areia movediça que o vento espalhava ao acaso.
E o Gafanhão assim fez. Foi tratando com adubo hectares de solo, para colher apenas nas poucas leiras que lhe rodeavam a casa.
Tudo isto, porém, ia levando anos sobre anos, em que a areia e o vento pareciam apostados em destruir caprichosamente o trabalho do homem. Não fora o Gafanhão quem é, teimoso e paciente como herói lendário e teria desistido de domar aquela terra maldita que a si própria se cobria, arrasando numa hora muitos meses de esforço inaudito.
Uma outra geração sucedeu, porém, à primeira e a luta continuou. Multiplicaram-se os braços, salpicou-se de casas todo o areal da beira-ria e os avós ensinavam aos netos, dobrados todos sobre as enxadas, que era preciso lutar e vencer, sob pena de morrer pela fome.
Depois da invasão das culturas pela avalanche das dunas, nunca os mais novos viam que os velhos chorassem, de braços cruzados, rogando pragas ao destino. Viam sim, crescer na água o número de barcos e na terra o de enxadas que recomeçavam pela centésima vez o trabalho inútil de uma sementeira que não chegava a dar fruto.
Teimava a areia em bailar, cobrindo cinicamente de grãos estéreis o chão estrumado com algas. E o Gafanhão teimava em vencê-la, enterrando-lhe mais e mais lavouros de moliço que ia buscar à água dia e noite.
Ao despontar de uma terceira geração, dispunha já o deserto de pouca areia branca para semear sobre o terreno escurecido que o gafanhão adubava teimosamente. Nas encostas das dunas interiores, mais selvagens, começava o pinheiral a segurar com raízame o terreno esfarelado. E à beira da água, na areia escura, o húmus e as raízes dos feijoeiros fixavam o perfil de um solo que principiava a render-se.
(Continua).
Texto retirado do Arquivo do Distrito de Aveiro – Volume IX de 1943, de Joaquim Matias.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Grupo Folclórico de Gumirães
quarta-feira, 3 de junho de 2009
A história do Grupo Etnográfico (parte IV)
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Apontamento sobre o Gafanhão e a areia – 3
Efectivamente, pensava ele, era infinitamente grande aquele areal que tinha em frente. E no dia em que o chão tivesse enegrecido, à força de moliço e lama, seria possível ter-se ali uma fortuna em terra onde colher novidade.
Sonhando este grande sonho. Tendo aninhada em si a ambição de vir a ter fartura e aquecido pela confiança segura no êxito, o homem teimava em cavar e plantar sempre, indo à Ria e revolvendo a areia, labutando apesar da fome, semeando pela décima vez onde nove, havia falhado uma cultura, sem desalento nem cansaço.
Quando a brancura do solo tinha ligeiramente escurecido, à força de adubo, as primeiras folhas da novidade manchavam de verde o chão, em volta da casa do homem, que sorria, triunfante, limpando o suor às costas negras da mão calejada.
E então veio de alguma parte outro homem, que se aliou ao primeiro. E chegou mais outro ao depois e um quarto, um quinto e uma família, e mais outras.
Ergueram-se mais casas ao longo dos braços da Ria, uma aqui, outra ali. Mais enxadas começaram a remover a areia e mais ancinhos de dentes bastos a arranhar o lodo do fundo do canal, arrancando moliço.
O Gafanhão organizava-se em exército indomável na luta contra a praga da areia. Teimoso por índole, jogou a cartada final: fixou-se. Casou e teve filhos. Construiu mais casas, mandou fazer mais enxadas de pá muito larga, muniu-se de ancinhos em maior quantidade e construiu moliceiros para a faina da Ria.
Eram então mais os braços. Homens e mulheres, filhos, genros e noras, tinham todos que amassar em suor a teimosa areia que se negava a produzir. E, enquanto uns labutavam em terra, cavando e semeando, outros queimavam ao sol iodado, sobre a água, os dorsos mal cobertos, dobrados sobre os cabos longos de pesados ancinhos a arrastar na lama.
Em volta da casa, ia o chão enegrecendo e já o cobria a verdura das folhas da novidade. Mas havia que alargar para dentro as culturas, que enegrecer mais areia, que fertilizar maior superfície de deserto.
(Continua).
Texto retirado do Arquivo do Distrito de Aveiro – Volume IX de 1943, de Joaquim Matias.