terça-feira, 30 de junho de 2009

50º Aniversário do Rancho Folclórico de Gouveia

Sábado, dia 4 de Julho, estaremos na Serra da Estrela, mais concretamente no município de Gouveia. Iremos participar no Festival comemorativo dos 50 anos do Rancho Folclórico de Gouveia. É uma participação que muito nos honra, porque não é todos os dias que se comemora uma data tão importante. São 50 anos de trabalho na defesa dos valores tradicionais e da cultura popular serrana.
Estarão presentes, além de nós, o Grupo Folclórico de S. Tiago de Custóias (Douro Litoral Norte), o Grupo de Danças e Cantares Regionais da Feira (Douro Litoral Sul), o Grupo de Danças e Cantares da Serra da Gravia (Beira Alta - Dão Lafões) e o Rancho Folclórico de S. Romão do Coronado (Douro Litoral Norte).
O programa é o seguinte:
16:00 horas - Chegada a Gouveia
16:30 horas - Trajar
17:00 horas - Missa na Igreja de S. Pedro
18:00 horas - Desfile Etnográfico
18:30 horas - Início do Festival
20:30 horas - Jantar comemorativo
22:00 horas - Baile de aniversário.
Na Celebração Eucarística, o Grupo Etnográfico ficou responsável pelo Salmo Responsorial, de acordo com a liturgia do dia.

domingo, 28 de junho de 2009

Origens do vocábulo "Gafanha" (parte III)

Em nota à margem da sua carta acrescenta, ainda, "no Caramulo, como me informou pessoa de Campia, usa-se o adjectivo gafanho para designar uma espécie de tojo, que tem os ramitos mais delgados que o negral e os picos mais pequenos e fracos. É talvez do aspecto dos ramitos, que parecem quebrados, que lhe vem o nome. Na Bairrada ao tojo-gafanho chamam chamusco ou tojo-chamusco".
No III Volume da Etnografia Portuguesa, José Leite de Vasconcelos apresenta, no capítulo dedicado à Gafanha, na página 331, uma anotação filológica de muito interesse que transcrevemos por vir a propósito: "Tratando-se da etimologia de gafanhoto, escreve Gonçalves Viana que tal palavra tem aspecto de diminutivo (cf. perdigoto), a que coresponde o aumentativo gafanhão (gafanhoto grande)", e supõe que devemos admitir como palavra primitiva gafanho ou gafanha; a primeira não a pôde abonar, ao passo que a segunda abona com o nome da nossa sub-região; e alega paralelos na toponímia, a saber, Gafanhão (em Castro Daire), Gafanhoeira (em Arraiolos e Évora). Pela minha parte adiciono Gafanhas (no Redondo) e Gafanhoeiras (em Reguengos de Monsaraz).
Julgo muito sensata a explicação apresentada pelo nosso grande filólogo - ao contário de outras que se têm proposto - ; a ele me inclino, e direi em seu apoio mais o seguinte: "Que Gafanha era na origem nome comum prova-o o receber o artigo definido (a Gafanha)"..
(continua)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A história do Grupo Etnográfico (parte VIII)

Em 16 de Maio de 1988, o presidente da Federação, Augusto Gomes dos Santos, informa por ofício que tem a honra de comunicar que "por proposta do Conselho Técnico Regional, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré reúne condições para ser inscrito na Federação como sócio efectivo", o que veio a acontecer precisamente nessa data.
Entretanto, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, quase desde os primeiros passos , participa em inúmeros espectáculos e festivais etnográficos e folclóricos por todo o país, incluíndo os Açores, e mesmo pelo estrangeiro. Actua em França, Alemanha, Itália, Espanha, participa em espectáculos na RTP, grava para o filme "Os Pescadores", sobre a obra homónima de Raúl Brandão, o escritor que porventura mais e melhor cantou a Ria de Aveiro, e organizou na terra que lhe serve de berço 19 Festivais Nacionais de Folclore, alguns deles com a marca de Internacionais. Este ano será, portanto, o XIX Festival. (Este escrito data de 2003)
Por outro lado, não descurou a organização de dois Colóquios: um em 1993, sobre "Gafanhas: usos, costumes e tradições"; e outro em 1998 sobre "A pesca do bacalhau - o que foi".
Participou em diversos espectáculos na EXPO 98 e até 1999 organizou quatro Encontros de Cantares de Janeiras. De registar, ainda, o seu envolvimento em várias exposições ligadas à etnografia, especialmente na Gafanha da Nazaré.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

As Gafanhas antes da Ria - 2

Desde sempre as Gafanhas viveram muito ligadas à Ria de Aveiro, já que, grande parte dos seus habitantes trabalhavam em actividades directa ou indirectamente relacionadas com ária; por exemplo a pesca, a extracção do sal, a construção naval, as redes, a pesca do bacalhau e muitas outras que hoje em dia, por força da crise em que andam as pescas, foram desaparecendo, obrigando muitas das pessoas a procurarem empregos noutras actividades.
Mesmo a agricultura estava bastante ligada à Ria, pois era lá que se ia buscar o moliço para estrumar a terra, o junco para servir de cama aos animais e até as lamas que ajudavam e muito, nas regas, pois os terrenos arenosos absorviam a água e era necessário “forrar” os regos por onde esta corria, para que não se perdesse e chegasse onde o lavrador pretendia.
Socialmente, existe nesta zona uma grande mistura de pessoas; aqui se juntaram gentes de vários pontos do nossos pais, pois vinham aqui encontrar o que não havia nas suas terras de origem – trabalho e por consequência melhoria das condições de vida. Como resultado, temos que, as pessoas das Gafanhas sofreram influências de outras gentes, razão pela qual se modificaram certos hábitos, como por exemplo a maneira de vestir, ou mesmo a linguagem, originando uma terra com uma maneira muito própria de viver, que não tem comparação com a de qualquer das localidades vizinhas, nomeadamente Ílhavo e Aveiro.
Após esta pequena apresentação das Gafanhas, será de certa maneira pertinente colocar no ar a seguinte questão:
Se as Gafanhas estavam tão intimamente ligadas à Ria, como seriam antes da Ria?
Ou posta a questão de outra maneira, será possível imaginar as Gafanhas sem a “companhia” das Águas da Ria?
É isto que vou tentar explicar de seguida.
E vou começar por falar um pouco sobre como terá surgido o nome Gafanha.
Muitas hipóteses se levantaram, umas com mais credibilidade, outras com menos; umas que se foram mantendo durante vários anos, outras que foram imediatamente postas de parte, por se ter chegado à conclusão que eram totalmente inverosímeis.
(Continua)

Boas leituras
Rubem da Rocha

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Praia da Barra


Agora que é chegada a época de férias, nada como dar um pouco de visibilidade às belezas naturais da nossa Gafanha da Nazaré.
Quem é natural de cá e mora longe, pode matar as saudades; quem anda à procura de boas praias e não conhece esta zona, aqui fica uma óptima sugestão: Praia da Barra.
Fica situada na freguesia da Gafanha da Nazaré, no concelho de Ílhavo, distrito de Aveiro.
Possui bandeira azul e um extenso areal, além de ser ideal para a prática de desportos náuticos como o surf e o bodyboard. Poderá ainda provar as excelentes especialidades gastronómicas da região. E claro, nos dias 11 de Julho, na Gafanha da Nazaré ou no dia 8 de Agosto, na Praia da Barra poderá assistir a dois Festivais de Folclore de grande nível.
Visite-nos e não ficará desiludido.

Grupo Típico de Danças e Cantares do Afonsoeiro



É já no próximo sábado, dia 27 de Junho, que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré se desloca ao Montijo, a convite do Grupo Típico de Danças e Cantares do Afonsoeiro. Vamos participar no Festival de Folclore Cidade do Montijo.

O programa é o seguinte:

18:00 horas - Chegada e recepção

18:45 horas - Jantar

20:15 horas - Trajar

21:00 horas - Festival

Participam neste Festival os seguintes Grupos:

Grupo Típico de Danças e Cantares do Afonsoeiro - Montijo

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré

Grupo de Danças e Cantares da Feira - Santa Maria da Feira

Grupo Folclórico de Danças e Cantares de Fonte da Senhora - Alcochete

terça-feira, 23 de junho de 2009

Augusto Gomes dos Santos

O Comendador Augusto Gomes dos Santos nasceu a 23 de Julho de 1924 na freguesia de Arcozelo, no concelho de Vila Nova de Gaia.
Augusto Gomes dos Santos dedicou mais de 40 anos à divulgação do folclore, da etnografia e das tradições populares Portuguesas. A sua actividade dividiu-se entre a imprensa (escreveu em "O Comércio do Porto" e no "Jornal de Notícias"), pela Direcção da Federação de Folclore Português (que fundou em 1977 tendo sido seu Presidente até final de 2004), pela Direcção de Ranchos em Arcozelo e pela organização e coordenação durante muitos anos do Festival de Folclore Nacional do Algarve. Prestou, ainda, apoio técnico aos Grupos de Folclore das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo Mundo, especialmente França, Brasil, Canadá, EUA, África do Sul e Macau, tendo nesses países efectuado várias acções de formação.
O Comendador Augusto Gomes dos Santos teve um papel fundamental no apoio aos Grupos e Ranchos, tendo com eles iniciado um trabalho de formação e orientação para a pesquisa e recolha de folclore e etnografia, de modo a melhorar a autenticidade das suas representações, nomeadamente com a realização de Encontros, Colóquios e Jornadas de Folclore.
O Comendador Augusto Gomes dos Santos recebeu as seguintes condecorações:
- Comenda de Mérito atribuída pelo Presidente da República Dr. Jorge Sampaio.
- Medalha de Mérito Cultural, atribuída pelo Ministro da Cultura Dr. Manuel Maria Carrilho.
- Cruz de Malta, atribuída pela Federação das Colectividades de Cultura e Recreio de Vila Nova de Gaia.
- Medalha de Mérito Classe Prata, atribuída pela Câmara Municipal de Lousada.
- Medalha de Mérito Municipal, Classe Ouro, atribuída pela Câmara Municipal de Baião.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Origens do vocábulo "Gafanha" (parte II)

Excluída a hipótese gafaria, por não haver qualquer documento ou vestígios que situem uma leprosaria por estes lados, resta-nos seguir outros caminhos, talvez mais convincentes.
O Padre Resende também não concorda com a derivação da palavra árabe gafar (tributo que se paga pela passagem de um rio) por se saber que ao tempo da ocupação árabe, a Gafanha, ou a zona actual das Gafanhas, nem sequer existia!
O Dr. Joaquim da Silveira, em carta que enviou ao autor da Monografia e publicada na segunda edição, tece algumas considerações sobre a questão, nomeadamente, "Gafanha, leva-me naturalmente a relacionar esse nome com o adjectivo gafenho, também pronunciado gafanho, que existe na língua (a par dos sinónimos gafento e gafeirento) para significar gafado, doente da gafeira. Eu ouvi gafanha no mesmo sentido, aplicado a carneiros e cabras atacados de morrinha, que é uma das modalidades da gafeira (sarna leprosa)".
"Sabe-se que uma das consequências da gafeira, ou seja a lepra, doença tão horrorosa nas pessoas ou nos animais, é fazer cair o pêlo, tornando a sua pele nua, seca, ronhosa, e deixando apenas aqui e ali (quando deixa) um ou outro tufozito de fios sem vigor, Na espécie humana recurva e enclavinha os dedos das mãos (e às vezes dos pés) que ficam hirtos e enganchados".
"Ora a vegetação, que é o pêlo da terra, desapareceu por completo da Gafanha, ou mal se notava nuns raros pinheiritos tortos e enfezados da sua parte norte. Era uma região árida, estéril, parecendo gafada (gafenha) e maldita por Deus. Uma metáfora tirada daquele triste espectáculo dos indivíduos leprosos (principalmente do glabrismo da pele, semelhante à superfície calva das areias, e talvez do recurvamento rígido dos dedos, de que os pinheiros contorcionados davam ideia) deve a meu ver, ter dado origem ao nome da Gafanha".
E acrescenta: "Na minha aldeia natal (Fogueira - Anadia) havia um baldio arenoso e sáfaro, que ainda conheci povoado apenas de magras e descontínuas moitas de mato, chamado Gafanha. E no Alentejo, na freguesia e concelho de Redondo, há igualmente uns casais chamados Gafanhas ou Gafanhas-de-João-Curado".

domingo, 21 de junho de 2009

As Gafanhas antes da Ria -1


Depois do texto “Apontamento sobre o Gafanhão e a areia”, nas próximas semanas irei transcrever um pequeno estudo feito pelo nosso colega e amigo Paulo Teixeira, com o título “As Gafanhas antes da Ria”.
Este trabalho foi apresentado no quinto colóquio da Murtosa e posteriormente transcrito no livro do 10º Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré em 1994.
Espero que gostem.
(figura 1)
Ao iniciar a apresentação deste trabalho, queria, em nome do grupo que represento, o Etnográfico da Gafanha da Nazaré, agradecer ao grupo organizador deste colóquio a oportunidade que nos deu de podermos vir aqui falar um pouco sobre a nossa região, as Gafanhas. Ao mesmo tempo queria também felicitar em meu nome e em nome do Grupo Etnográfico, os “Camponeses da Beira Ria” pelo magnífico trabalho que têm vindo a desenvolver em prol do Folclore e da Etnografia e desejar que esta iniciativa, que já vai na sua quinta edição, se continue a realizar, cada vez com mais impacto a nível geral e em especial junto das pessoas que não estão tão sensibilizadas para estes assuntos.
Quando o Grupo me propôs apresentar este tema, pensei um pouco com os meus botões e achei que, à primeira vista, seria um assunto sem ponta por onde se lhe pegar. Mas, depois de reflectir algum tempo e de ter consultado algum material que tinha ao dispor, comecei a verificar que era possível obter algo com interesse para vir apresentar a este colóquio.
Irei começar por situar geograficamente a zona das Gafanhas. É uma zona que, como podem observar na fig. 1, começa na Gafanha da Nazaré e termina já bastante perto de Mira, na Gafanha do Areão. Abrange por isso dois concelhos: Concelho de Ílhavo, do qual fazem parte as Gafanhas da Nazaré, Gafanha da Encarnação, do Carmo, da Boavista e de Aquém.
Por sua vez, no Concelho de Vagos, ficam as Gafanhas da Boa Hora, da Vagueira e do Areão. Pode considerar-se esta zona como sendo uma península, já que se encontra rodeada de água por todos os lados, excepto por um, que é precisamente aquele que dá ligação para Vagos e Mira.
A chamada zona das Gafanhas tem cerca de setenta quilómetros quadrados de superfície, apresentando como característica predominante, o facto de ser uma zona muito plana, formada essencialmente por solos bastante arenosos.
(Continua)

Boas leituras
Rubem da Rocha

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A história do Grupo Etnográfico (parte VII)

Entretanto, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré não pára. Aspira a mais. E esse mais passa, indubitavelmente, pela filiação na Federação do Folclore Português, entidade máxima para controle e genuinidade dos grupos etnográficos e de folclore.
Em resposta a um ofício do Grupo de 15 de Julho de 1986, Severim Marques, membro do Conselho Técnico Regional daquela Federação, refere-se a uma Exposição Etnográfica organizada pelo Grupo que visitou em 7 do mesmo mês. E sublinha: " a vossa exposição agradou-nos sobremaneira e deu-nos até bastante satisfação por constatarmos que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, no limiar da sua vida, agora tomada a sério, manifestou o sentido e a consciência do que é o folclore, que não é nem mais nem menos que uma parte das páginas brilhantes do grande livro da cultura popular. O folclore não é só trajar, dançar e cantar ao som de melodiosas músicas tiradas de instrumentos musicais que os nossos avoengos utilizaram no seu espaço e no tempo, não! O folclore é um mundo de tradições do nosso povo que é preciso preservar."
Depois de considerar a exposição como "uma valiosa mostra das potencialidades das boas gentes das Gafanhas", bem como "o espelho de uma força de vontade que, naturalmente, terá por detrás de si algo de bem organizado, com ordem e mérito", Severim Marques frisa que "o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré poderá vir a infileirar com os melhores agrupamentos folclóricos do nosso País".
Por outro lado, aquele responsável regional pelo folclore anuncia que " só depois de vermos o Grupo, incluindo como é óbvio dançarinos e dançarinas, tocata, figurantes devidamente trajados", e de se certificarem do valor das "recolhas, origem dos trajes de festa, domingar, romaria e dos vários trajes de trabalho e porventura outros", mas também do que diz respeito "às danças e músicas, bem como ao uso e utilização dos instrumentos musicais que os vosso antepassados usaram e utilizaram em romarias", é que se procederá à admissão do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré no seio da Federação do Folclore Português.
Este ofício de Severim Marques mostra à evidência que o Grupo teve de percorrer um longo caminho de recolha, selecção, estudo, registo, ensaio e apresentação das tradições etnofolclóricas das Gafanhas, até chegar a fazer parte de pleno direito da Federação do Folclore Português.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila

É já no próximo dia 20 de Junho, sábado, que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré se desloca à freguesia de Arzila, situada na margem esquerda do Rio Mondego, a cerca de 13 Km a jusante da cidade de Coimbra, na denominada região do Baixo Mondego.
Vamos participar no XXVII Festival de Folclore do Grupo Folclórico e Etnográfico de Arzila, que terá lugar junto à sede do Grupo, no parque de merendas de Arzila.
O programa é o seguinte:
18:00 horas - Chegada a Arzila e recepção
19:00 horas - Jantar convívio
21:00 horas - Trajar
21:30 horas - Entrega de lembranças e início do Festival.
Participam no Festival, além do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré e do Grupo anfitrião, o Grupo Folclórico "A Rusga de Arcozelo" (Douro Litoral Centro), o Grupo Folclórico Centro Convívio de Abitureiras (Ribatejo) e o Rancho Típico de S. Mamede de Infesta (Douro Litoral Norte).

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Apontamento sobre o Gafanhão e a areia – 6

Encontrando-se a dois passos de Aveiro, o habitante da Gafanha não sente nem vive como o Aveirense. Menos sentimental e mais metido consigo, raro se entusiasma ou se queixa, guardando caladamente projectos e desgostos que tenha.
Fisicamente mesmo, não se encontram no Gafanhão os traços das restantes povoações ribeirinhas. Não se lhe nota aquele olhar atirado para longe que existe no rosto dos homens de Ílhavo, mais amantes do mar alto, embora vivendo mais longe da costa. Nem mesmo há no Gafanhão a desenvoltura e a viveza do seu vizinho murtoseiro.
Mas o que fundamentalmente caracteriza o homem da Gafanha é a sua psicologia de pessoa prática, mais dada aos interesses do solo que à nostalgia do além do mar, com que sonham em última análise os restantes homens da beira da laguna.
Enquanto o Ilhavense andou ao deus dará pelos sete mares do mundo, cortando rotas, descobrindo terras, visitando praias, foi-lhe na alma gerando como que uma névoa de saudosismo sentimental que deixou aos filhos e aos netos por hereditariedade.
Mas, enquanto isso, o Gafanhão lutou em terra, prosaicamente, dentro de limitados horizontes, no fito de uma construção definida. Moldou-lhe esta circunstância um espírito pragmático, sempre tendo em vista uma finalidade útil e imediata, em vez de um vago ideal de partir a correr mundo, sem saber para quê, como as gaivotas do mar.
O homem do mar luta com os elementos, porque o seu fundo temperamental de poeta o faz instintivamente descobrir na luta quanta beleza existe no esforço titânico do vencedor das ondas e do vento. O Gafanhão, homem de terra, luta sem tréguas, teima e vence, é pertinaz, laborioso e indomável, porque da sua luta surgirá o pão que é para ele a primeira condição da vida.
Por isso, enquanto Ílhavo e Aveiro são hoje terras pobres, embora com poemas de heroicidade escritos nas rotas de um milhão de barcos que tem sulcado as ondas de todos os mares, a Gafanha é simplesmente um celeiro cheio, uma grande arca de pão.
O Gafanhão pretendeu apenas bastar-se, arrancar alimento da areia, ser útil. Não tem consciência da epopeia magnífica erguida em três gerações, com suor e enxadas, à sombra da proa recurvada dos seus moliceiros. Mas nem por isso é menor o seu mérito. Nem por isso a sua Gafanha, a Gafanha que ele fez sozinho, (contra tudo e contra todos), nem por isso a sua Gafanha deixa de ser um triunfo monumental que aí temos a atestar ao Pais e ao Mundo que o braço do homem continua sendo, a grande alavanca da criação e que em boa verdade vence quem teima, porque a fé revolve montanhas.
Texto retirado do Arquivo do Distrito de Aveiro – Volume IX de 1943, de Joaquim Matias.

Depois de terminar a transcrição deste texto, gostaria apenas de relembrar, pois penso que também o notaram, na forma simples e melodiosa, de como o autor fez a narração da criação da nossa Gafanha.
Em certas alturas chegou a ser mesmo como que poética, mostrando-nos um Gafanhão persistente, com grande força de vontade, nunca virando a cara à luta. Um Gafanhão que semeava e após a natureza destruir, voltava a semear, tantas até conseguir ter sucesso.
Depois desta descrição neste texto e de toda a história que conhecemos, ninguém deverá ter vergonha de ser Gafanhão e deixar de vez com a persistência de outros nomes.

domingo, 14 de junho de 2009

Origens do vocábulo "Gafanha" (parte I)

Qualquer estudo que se faça sobre a nossa terra, leva, inevitavelmente, os seus autores a debruçarem-se sobre as origens do vocábulo Gafanha, sem que até hoje alguém tenha chegado a qualquer verdade absoluta.
O autor destas linhas é, quase sempre, abordado para dar a sua opinião, quando é certo que não passa dum curioso pelas coisas da Gafanha e das suas gentes.
Temos de convir que faz parte do espírito de curiosidade das pessoas procurarem a etimologia dos vocábulos geográficos, sendo corrente encontrarem lendas na base de muitos.
A palavra Gafanha não escapa à dificuldade natural e ainda hoje não é possível saber-se concretamente a sua origem.
Para acicatar o gosto pela análise desta questão, aqui deixamos algumas hipóteses na esperança de que outros possam dar continuidade ao estudo que se impõe.
A Monografia da Gafanha do Padre João Vieira Resende, obra que viu a luz do dia, na sua segunda e última edição em 1944, continua a ser o trabalho mais completo sobre esta região das Gafanhas, não obstante terem passado 40 anos sobre a sua publicação. Nela afirma o Padre Resende que a palavra Gafanha teria derivado de gadanhar (cortar com a gadanha) uma vez que aqui havia bastante junco que os primeiros habitantes empregavam, não só nos currais dos animais, como nas próprias habitações.
Os primeiros gafanhões ou quantos por aqui gafanhavam, ou, melhor dizendo, gadanhavam, eram analfabetos ou semi-analfabetos, daí se justificando a troca do d pelo f. Aliás, isso sempre aconteceu na Gafanha, como, por exemplo, nos dias de hoje, quando se diz buano em vez de guano.
Diz o Padre Resende que a expressão "vamos à gafanha do junco" significava "vamos à gadanha (gadanhagem, corte) do junco". E diz, ainda, que o senhor Manuel das Neves, mestre não diplomado das primeiras letras, falecido em 1927, com 83 anos, na Gafanha da Encarnação, contava que "quando menino, vinham aqui, com frequência, umas mulherzinhas cortar e apanhar feno e junco que levavam para as suas terras e que, a esta acção de cortar com o foicinho, aplicavam o termo de gafenhar. Gafenhar e não gafanhar. "Corrompeu-se o termo das pastoras dos suínos, que levavam para Mira, Calvão, Lombomeão, etc., os fenos gafenhados por estes sítios.
(Continua)
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins, publicado no livro do 3º Festival Nacional de Folclore do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré que se realizou a 12 de Julho de 1987.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Tomás Ribas


Iniciamos hoje uma rubrica sobre personalidades que se dedicaram à causa da Etnografia e do Folclore. Começamos por alguém que chegou a visitar o Grupo Etnográfico para ajuizar da sua autenticidade, enquanto responsável pelo Inatel.


Tomaz Emídio Leopoldo de Carvalho Cavalcanti de Albuquerque Schiappa Pectra Sousa Ribas

Escritor e etnógrafo, nasceu em Alcáçovas, Viana do Alentejo, em 20 de Junho de 1918 e faleceu em Campolide, Lisboa, em 21 de Março de 1999. No Conservatório Nacional concluiu o curso especial de Dança e Coreografia. Foi professor no Teatro Nacional de São Carlos e no Instituto de Novas Profissões. Cultivou o jornalismo, fazendo crítica de Teatro e de Ballet. Praticou encenação coreográfica e teatral e participou em movimentos teatrais de vanguarda. De 1977 a 1986 foi Delegado no Algarve da Secretaria de Estado da Cultura, tendo sido depois nomeado para a Comissão Instaladora da Escola Superior de Dança, do Instituto Politécnico de Lisboa. Estreou-se nas letras com o volume de poemas Monotonia, 1942. Entre outras obras, publicou Montanha Russa, 1946, e O Cais das Colunas, 1959 (romance), O Primeiro Negócio, 1955, e Giovanna, 1965 (contos e novelas), Roberto e Melisandra, 1952 (teatro), O que é o Ballet, 1958 (Ensaio), e Ana Pavlova, 1961 (biografia). (1)
Foi Chefe de Divisão de Etnografia e Folclore do Inatel, membro do Conselho Científico e Orientador de Seminários da Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa, membro da Secção Portuguesa do CIOFF - UNESCO, etc. Foi Comendador da Ordem de Mérito e Doutor Honoris Causa pela Universidade da Dança (Paris).

Na área do Folclore e da Etnografia publicou: Danças populares portuguesas, Danças do povo português, Introdução ao estudo das danças populares de Cabo Verde, Introdução ao estudo das danças da África Portuguesa, O Teatro popular de São Tomé e Príncipe, O Tchiloli - Teatro clássico popular de São Tomé e Príncipe, Aspectos da etnografia e do folclore da Nazaré, Guia de recolha de danças populares, O Teatro popular tradicional português, Monografias da dança folclórica da Europa, Danças populares tradicionais portuguesas, Tentativa de uma classificação das danças populares portuguesas, Bosquejo histórico das danças tradicionais portuguesas.

Fonte: "O Grande Livro dos Portugueses" - Círculo de Leitores

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A história do Grupo Etnográfico (parte VI)

Entretanto, os corpos gerentes do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré ficaram assim constituídos:
Assembleia Geral
Presidente - João Álvaro Teixeira da Rocha Ramos
Secretário - Paulo Manuel Marques Riço
Vogal - David Soares Caçoilo
Direcção
Presidente - Alfredo Ferreira da Silva
Vice-Presidente - José Manuel da Cunha Pereira
Secretário-Geral - José Augusto Teixeira Rocha
Secretário-Adjunto - Paulo Jorge Albuquerque Teixeira
Tesoureiro - José da Costa Ferreira
Tesoureiro-Adjunto - Maria Isabel Fidalgo das Neves Nunes
Vogal - Maria da Conceição Bola Soares
Vogal - Alda Rei Albuquerque
Vogal - Rosa Bela Vidreiro Pata
Conselho Fiscal
Presidente - Manuel Cravo da Rocha
Vogal - José Maria Serafim Lourenço
Vogal - Eduardo Aníbal Falcão Ribeiro Arvins
O primeiro ensaiador do Grupo foi Acácio José Teixeira Rito Nunes, mas tempo depois, por motivos da sua vida profissional, teve de emigrar, sendo substituído por Carlos Alberto Pereira de Sousa, que acabou por abandonar essas funções por ter ingressado num Seminário, na perspectiva de vir a ser ordenado sacerdote, como veio a acontecer. O terceiro ensaiador foi Eduardo Aníbal Falcão Ribeiro Arvins.

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