segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ranchos Folclóricos – III

Grupo Etnográfico no Congresso de Folclore em Espinho
Garrett é pioneiro no estudo da literatura popular, romântico que era e, como todos os românticos, interessado em conhecer a especificidade de cada povo, objectivo que se coadunava com o espírito nacionalista, objectivo ainda que era contrário ao domínio clássico-absolutista da cultura erudita. E foi Adolfo Coelho que fez entrar nos estudos portugueses as palavras folclore (1875) e etnografia (1889). No fim do século passado havia entre nós muitos etnógrafos e folcloristas de que cumpre destacar leite de Vasconcelos e Teófilo Braga, além de Adolfo Coelho, todos republicanos como os outros principais estudiosos da matéria, o que se entende num plano de simpatia e de herança dos ideais românticos.
Quando Salazar chegou ao poder, a etnologia perdeu algum ânimo, mas o Estado Novo lobrigou a importância dos grupos folclóricos, aliás por imitação do que se passava em outros países. O folclore era visto como um meio de propaganda política, pela concentração de artistas populares, criando-se logo em 1933 o Secretariado da Propaganda Nacional, depois SNI (Secretariado Nacional de Informação). Fundam-se numerosos ranchos (tendencialmente chamados regionais), mas também começa a desvirtuação cultural: a espectacularidade afecta frequentemente a verdade, uniformizando-se trajes, refinando-se, com fins estéticos, a dança e o canto, recorrendo-se mesmo a instrumentos musicais estranhos. Entretanto, a etnologia e a etnografia revigoram-se, multiplicam-se as colecções de cantares. A denominação de grupo folclórico aparece cerca de 1950; dantes, o termo usado era o de rancho, tal como agora há quem prefira o qualificativo de etnográfico para rancho ou grupo.
Recentemente, são muitos os estudiosos e responsáveis pelo nosso folclore que se insurgem contra os abusos neste domínio, apelando para a genuinidade cultural. Na verdade, o canto e a dança folclóricos desprestigiaram-se em muitos lugares e os investigadores começaram a mostrar-se cépticos, preferindo esquecê-los em troca da pesquisa directa. Urge restabelecer a autenticidade onde ela não existe, banindo estilizações e efeitos pomposos. Ainda vamos a tempo. E isso é necessário, quando sabemos que novos esquemas económicos e sociais põem em risco a nossa identidade.
Artigo do Jornal “Publico” de 20 de Novembro de 1994, da autoria de António Cabral.

Boas leituras
Rubem da Rocha

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Concelho de Ílhavo - parte III

TURISMO
Podemos afirmar, sem exagero, que Deus dotou de beleza invulgar a região, onde se encontra situado o concelho de Ílhavo.
Formando uma espécie de península, confina a Norte e a Nascente com o concelho de Aveiro e a Sul com o de Vagos, do qual está separado pela ponte de Água-Fria, que atravessa o rio Boco e de onde se pode desfrutar um panorama deslumbrante.
A parte ocidental do concelho é cortado por diversos braços da Ria de Aveiro, com os seus bucólicos e sedutores canais e esteiros, sendo necessárias sete pontes para passar de uns locais para outros, o que, como é sabido, lhe favorece extraordinariamente os atractivos turísticos.
Não é, pois, de estranhar que os antigos tenham posto a algumas das suas povoações nomes tão sugestivos como «Lugar da Vista Alegre» e «Gafanha da Boavista» e à parte mais elevada da Costa Nova do Prado a designação de «Belavista», por dali se poder observar um dos trechos mais fascinantes da extensa laguna.
Esta bacia – espécie de estuário do Canal de Mira – é limitada a Poente, pela marginal da praia, com as suas típicas e encantadoras casinhas, pintadas às riscas de várias cores – os palheiros – e, a Nascente, por extensas zonas de verdura, no meio das quais se divisam as torres de três igrejas, várias vivendas e outras edificações muito branquinhas, tendo por fundo uma frondosa floresta de altos pinheiros, por cima dos quais se avistam, ao longe, os contrafortes da serra, cobertos de luxuriante vegetação.
Em horas de preia-mar, nas suas águas profundas e muito verdes, onde, por vezes, se realizam animadas regatas ou renhidos concursos de natação, podem ver-se airosas e possantes lanchas e características bateiras de pesca, bastante coloridas, devido às pinturas alegres dos cascos e às garridas bóias das suas redes e também interessantes barquinhos e pranchas de recreio «windsurf», cujas velas, de várias cores, lhes emprestam um fascínio extraordinário.
Na parte Oeste, entre o casario e o oceano, encontra-se um extenso e largo areal, onde cabem à vontade muitos milhares de pessoas e cuja areia, muito branca e fina, convida ao repouso e aos salutares banhes de sol.
Para evitar que o mar continuasse a invadir e a comer esse atraente areal, há cerca de doze anos foram executadas as necessárias obras de defesa da costa.
Entre os vários esporões surgiram, então, diversas praias, pouco profundas, de águas límpidas e transparentes, onde quebram ondas, não muito altas, nas quais apetece mergulhar e praticar o excitante desporto do deslizar sobre pranchas (surf).
Esta praia, a Costa Nova do Prado, onde, presentemente, tanto na marginal como na duna, estão a ser executadas obras de grande vulto, mediante um bem delineado plano de urbanização, está, por assim dizer, ligada à Praia da Barra e para elas se dirigem todos os dias, durante a época balnear, algumas centenas de banhistas, através de uma alta, comprida e bem lançada ponte, que atravessa a Ria e serve também de miradouro aos muitos turistas nacionais e estrangeiros, que procuram a região de Aveiro para seu devaneio.
Depois que, em 1968, a Câmara Municipal de Ílhavo mandou construir, numa zona bastante arborizada, um belo parque dotado dos requisitos necessários à prática do campismo, a Praia da Barra experimentou um incremento fora do vulgar, mercê da iniciativa de uma empresa que, submetendo-se a um Plano de Urbanização adequado, fornecido pelo Município, começou por abrir e asfaltar alguns quilómetros de estradas e ruas.
Nessas ruas, principalmente nas que cercam o referido parque de campismo e na que margina a Ria, surgiram, então, como cogumelos, muitas dezenas de belas e confortáveis vivendas, mandadas edificar por pessoas que ali foram atraídas, não apenas pela beleza da zona, mas ainda pelas suas praias, mansinhas e arenosas, e também pelos altos e compridos paredões da entrada do porto, onde, em agradáveis passeios, as pessoas podem assistir à entrada e saída de traineiras, arrastões e navios mercantes, nacionais e estrangeiros, bem como às caprichosas evoluções das velozes lanchinhas de recreio, o que regala os olhos e delicia o espírito.
De cima desses paredões, que, durante a noite são iluminados pela luz forte e intensa do altaneiro Farol, dezenas de pescadores entretêm-se no aliciante desporto da pesca à linha, apanhando, por vezes, belos exemplares de robalos, de solhas, de safios e até de corvinas.
Estes atractivos têm favorecido o constante e rápido engrandecimento da Barra, onde se rasgaram largas avenidas, que se estão a encher de prédios de vários andares, os quais servem para alojar, durante todo o ano, muitas famílias, cujos membros exercem a sua actividade profissional em Aveiro ou nos concelhos limítrofes.
Outra zona de grande interesse turístico, pela sua situação privilegiada, em frente a uma grande bacia, onde foi implantado o triângulo regulador das águas da Ria e do mar, e de onde partem as lanchas de passagem para S. Jacinto, é a povoação do Forte.
Esta designação é devida ao facto de ali, nessa ilha, existir uma antiga fortaleza, assente na água, de cima da qual, em tempos recuados, por meio de bandeiras, se transmitiam os sinais indicadores da barra, aos navios que, de velas enfunadas, demandavam o Porto de Aveiro.
Perto desta fortaleza, encontra-se um enorme e deleitoso jardim, ladeado de palmeiras e banhado pelas mansas águas da Cambeia e do Canal de Oudinot, no qual, pela amenidade do clima, muitos forasteiros se deliciam, descansando das fadigas, apreciando a bonita paisagem ou saboreando apetitosos farnéis, em recintos apropriados para esse fim.
Mas, além das praias, do parque de campismo e de todas as belezas paisagísticas, que acabo de mencionar, Ílhavo ainda se orgulha de possuir dois belos e magníficos museus: – O MUSEU MARÍTIMO E REGIONAL DE Ílhavo – e o – MUSEU HISTÓRICO DA VISTA ALEGRE – e também algumas Igrejas e Capelas dignas de serem visitadas, das quais destaco a de Nossa Senhora da Penha de França, por ser considerada Monumento Nacional.
Ílhavo – Capela da Vista Alegre (Monumento Nacional).

No MUSEU MARÍTIMO E REGIONAL DE Ílhavo, que, presentemente, se encontra instalado num majestoso edifício dotado dos mais modernos requisitos museológicos, além de interessantes pinturas, gravuras e esculturas alusivas ao mar, o visitante poderá admirar um conjunto de modelos de embarcações de todos os tipos e latitudes, as quais documentam, à maravilha, a história das navegações de todos os tempos e ainda alguns valiosos e raros instrumentos de navegação náutica orientada, como o astrolábio, a cábria e o sextante, bem como a melhor colecção de bússolas e agulhas de marear, existentes em Portugal.
Numa sala apropriada para exposição da flora e da fauna marítima, encontrará, como principal centro de interesse, uma valiosa colecção de conchas marinhas, devidamente classificadas, as quais, pela sua beleza, causam a admiração de toda a gente.
E, embora não pretenda descrever todo o magnífico recheio do Museu, não posso deixar de falar nas actividades da Ria, que foram ou ainda são exercidas por homens deste concelho e nos barcos, a bordo dos quais, os ílhavos, com destemor e galhardia, tentaram vencer os oceanos e onde muitos ficaram sepultados.
Das actividades da Ria, saliento as marinhas de sal, com todas as alfaias, as armações e saltadoiros de tainhas e as miniaturas de todos os tipos de embarcações, desde o saleiro e o mercantel até à bateira e à caçadeira, com realce especial para o elegante barco moliceiro.
Nos trabalhos do mar, a atenção do visitante é atraída para os bonitos modelos de embarcações de pesca, que vão desde o famoso barco do mar, em forma de meia-lua, das artes da xávega, até ao mais moderno e sofisticado arrastão, passando pelos airosos lugres bacalhoeiros, aparelhados na perfeição, com todo o seu massa me e majestoso velame.
No convés destes lindos veleiros podem ver-se rimas de dóris, alguns deles equipados com toda a palamenta (1) e, dentro dos quais, os arrojados e destemidos pescadores – cada um no seu – passavam dias inteiros, trabalhando na árdua e perigosa faina da pesca, nesses longínquos, brumosos e gelados mares do fim do mundo.
No que respeita ao – MUSEU HISTÓRICO DA VISTA ALEGRE – apenas direi que é um repositório de arte e beleza que encanta todas as pessoas que o visitam.
Ali se encontram expostas, em ricas vitrinas, muitas e variadas peças decorativas de uso doméstico, bem como maravilhosas obras de escultura e modelação, algumas delas exemplares únicos, de valor incalculável, as quais foram executadas durante o período que vai desde a fundação da fábrica, em 1824, quando ainda se produziam objectos em vidro, até aos nossos dias.
A arte e elegância das peças expostas, tão finas, tão bonitas e com pinturas tão delicadas, faz com que os visitantes – geralmente individualidades de elevada posição social – permanecem longo tempo a contemplá-las e saiam dali extasiados.
E assim, em traços gerais, foram focadas as principais características do concelho de Ílhavo, cujo povo, de índole pacífica, é generoso, trabalhador e ordeiro.
___________________
(1) – Palamenta: apetrechos de bordo.

Por Amadeu Eurípedes Cachim
In: Aveiro e o seu Distrito; revista nº 29 de Novembro de 1981

quarta-feira, 21 de abril de 2010

1ª Actuação de 2010

Foi no passado domingo, dia 18-04-2010, que se realizou a nossa primeira actuação desta época folclórica que agora começa. Normalmente o início é sempre na Feira de Março que este ano apresentou um novo formato. Os grupos foram recebidos junto ao edifício da administração do Parque de Feiras e foi formado um pequeno desfile que passou por um dos pavilhões terminando junto ao palco, no recinto da feira.
Os grupos foram passando pelo tablado com uma ordem previamente definida, dançando cerca de meia hora cada um e, após o término das actuações, foi feito novo desfile passando pelo outro pavilhão e terminando no local onde inicialmente fomos recebidos.
É de louvar esta organização, já que em anos anteriores a desorganização era total, criando-se por vezes situações complicadas de resolver. De qualquer modo seria bom que a organização dos espectáculos da Feira tivesse alguma preocupação na escolha dos grupos folclóricos para os espectáculos. Nem todos são representativos da sua região.
Uma palavra de louvor e de parabéns para o Grupo Etnográfico de Terras de Cambra que, pela sua representação e a sua forma de estar em palco, foram uns dignos representantes da sua terra.
Para os nossos meninos mais novos, que fizeram neste domingo a sua estreia, desejo que continuem a trabalhar com a vontade e o afinco que têm demonstrado, pois estou certo que em breve serão dignos representantes dos nossos avós Gafanhões. Parabéns para todos pois apesar de a nossa actuação não ter sido brilhante, para inicio de época, foi o possível e pela resposta do público que assistiu ao espectáculo penso que poderemos ficar satisfeitos, pelo trabalho apresentado.
Por hoje está feito um pequeno relato do que se passou, até à próxima actuação, que será no dia 15-05-2010, a convite do Rancho Folclórico Flor do Sabugueiro, em Tarouca.

Boas leituras
Rubem da Rocha

domingo, 18 de abril de 2010

Feira de Março 2010

Feira de Março nos finais do séc XIX.
O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré actua hoje na Feira de Março, em Aveiro.
O Festival terá início às 15 horas, no palco FM 2010, na Praça da Música.
Connosco actuam também o Grupo Cénico Cantares da Ria, o Grupo Folclórico do Carregal, de Requeixo e o Grupo Etnográfico de Terras de Cambra.
Apareçam na Feira de Março, divirtam-se, comam umas farturas e assistam à actuação do nosso Grupo Etnográfico.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ranchos Folclóricos – II

Nos cantares e danças reflecte-se toda a cultura comunitária: daí que os componentes de um rancho folclórico a sério tenham jus a ser tidos como agentes culturais entre os melhores. Poucos como eles se sentirão à altura de criar um museu etnográfico, assistindo-lhes ainda o dever de lutar contra a descaracterização, a perda de identidade que nos últimos anos ameaça não só a nossa região como também o país em geral. Para tanto basta uma coisa simultaneamente simples e difícil: é necessário que a comunidade local sinta o rancho como seu.
Convém ir um pouco à história escrita de que como sabemos, o grego Heródoto é tido como pai. Ele apoiava-se muito nas tradições orais ou “logoi”, interessando-se pelos costumes populares. Pela época clássica, em toda a Europa, a tendência para estudar nas escolas a cultura grega e latina marginalizou um pouco o gosto pelas coisas do povo, mas podemos sempre encontrar em Portugal homens como Fernão Mendes Pinto, Francisco Alves, António Tenreiro e outros autores de roteiros que se sentem atraídos por muitos usos e costumes. Foi todavia o Romantismo, no dealbar do século XIX, que lançou o grito de alerta. A palavra folclore (do inglês folk-povo; e lore, conhecimento), empregou-a pela primeira vez o inglês Williams Thoms para designar exactamente a “ciência da tradição dos povos civilizados e sobretudo dos meios populares”. Isto em 1846. Antes, em 1807, Campe criou o termo etnografia com sentido de descrição dos povos, ainda que tal sentido evoluísse para a descrição dos povos primitivos, o que hoje já não acontece. Jorge Dias (“Estudos de Antropologia, I”, Imprensa Nacional, 1990, p21) diz assim: “A etnografia observa, analisa e descreve uma determinada cultura e a etnologia sistematiza, compara, generaliza e interpreta em termos gerais”. Também, segundo ele, o folclore é o “ramo da etnografia que visa, em especial, a recolha e descrição das tradições orais, ou melhor, da literatura oral de qualquer povo”. Ergologia é o estudo da cultura material, enquanto etnossociologia consiste no estudo da estrutura social e da psicologia colectiva. De notar que, como as cantigas populares, também os provérbios, as adivinhas, lendas, contos, etc., fazem parte do folclore.
(Continua)
Artigo do Jornal “Publico” de 20 de Novembro de 1994, da autoria de António Cabral.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O Concelho de Ílhavo - parte II

INSTRUÇÃO E CULTURA

Na sede do concelho, praticamente não existem analfabetos, uma vez que o seu número é bastante reduzido e contam-se às centenas os indivíduos habilitados com cursos médios, superiores e universitários, podendo mesmo afirmar-se que Ílhavo é a freguesia do País com maior percentagem de pessoas habilitadas com cursos superiores.
De resto, todo o concelho está coberto com uma rede de Escolas Primárias – oitenta salas de aula – onde recebem ensino elementar cerca de três mil crianças, possuindo também duas Escolas Preparatórias e um Posto de Telescola e ainda duas Escolas Secundárias, as quais, actualmente, vão satisfazendo as necessidades.
Do mesmo modo, a Educação Pré-Escolar, embora não abranja ainda todas as freguesias, é já ministrada em cinco Infantários e Jardins Escolas e ainda em três centros da A. T. L. – Actividades dos tempos livres – estando nesta altura, em construção, mais dois grandes imóveis destinados ao mesmo fim, sendo um deles para a educação de deficientes.

Ílhavo – Trecho da ria em frente à fábrica da Vista Alegre.

ASSISTÊNCIA À INFÂNCIA E À TERCEIRA IDADE

Além dos infantários, que já mencionei, duas outras fundações se ocupam da assistência à Infância e à Terceira Idade, em regime de Internato.
São elas a Casa da Criança, onde estão albergadas, sem que nada lhes falte, muitas dezenas de meninas e meninos e o Lar de S. José, um belo edifício rodeado de jardins, construído propositadamente para o apoio aos idosos e que tem capacidade para o internamento de sessenta pessoas.

Por Amadeu Eurípedes Cachim
In: Aveiro e o seu Distrito; revista nº 29 de Novembro de 1981

(Continua)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ranchos Folclóricos - I

O Jornal Publico de 20 de Novembro de 1994, publicou um pequeno artigo da autoria de António Cabral, com o título de “Ranchos Folclóricos”.
Neste início de época penso que será bastante oportuno, não só pelo método de escolha de grupos para os festivais, como também pelas directrizes a tomar na formação de um grupo.

Se neste ano de 1994 procurarmos saber que apreço têm os portugueses pelos ranchos folclóricos, somos bem capazes de apurar que, além da dedicação dos que a eles se ligam pelo trabalho, animação e direcção, existe a curiosidade de alguns estudiosos e o gosto de um público anónimo que, geralmente, não se interessa mais do que pelo espectáculo em si. Ora, é sobretudo o público anónimo que está em causa sempre que se quer avaliar a ressonância de um rancho folclórico.
Penso que a espectacularidade não deve ser objectivo número um, ainda que também seja um valor a considerar para quem se apresenta em publico. Ela pode conduzir a um estado geral de indiferença por aquilo que verdadeiramente é a cultura popular. Conduz, se o espectador não vê mais do que espectáculo. Porque este não penetra a fundo na alma.
É preciso que todos os ranchos ou grupos folclóricos tenham consciência do que representam, fazendo com que essa consciência se difunda por quem assiste às suas actuações. Para isso permitam-me que anuncie um dever fundamental: ser fiel ao património cultural da localidade em nome da qual se fala e actua. Essa fidelidade deve visar a linguagem, os instrumentos musicais, os passos coreográficos e o trajar. Adaptar palavras e expressões, usar instrumentos alheios ou sem uso local, copiar desenhos coreográficos próprios de outros sítios e alterar o traje que se usava constituem atentados à cultura. E é talvez por se ir tomando conhecimento disso que há muita gente que desdenha dos agrupamentos folclóricos, ainda que em muitos casos essa mesma gente só tenha palavras para censurar e não, como devia, para compreender, aconselhar, participar.
Dirigir ou pertencer a um rancho folclórico não é tarefa fácil, deixando já de parte o tempo ocupado na organização e ensaios, para além das recolhas. Fixando-nos nestas, há que reconhecer que todo e qualquer trabalho de levantamento sério é muito difícil, pelo grau de conhecimentos culturais que pressupõe. É que quase tudo o que se relaciona com o viver característico de uma comunidade deve ser considerado e arquivado, não esquecendo particularmente o contacto com as pessoas idosas, os registos paroquiais e outros, a arte caracteristicamente local, rezas, lendas, crenças, jogos, festas, usos e costumes.
(Continua)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Concelho de Ílhavo - parte I

Em 8 de Março de 1514, D. Manuel I concedeu foral ao Concelho de Ílhavo.
Embora pequeno, este concelho é um dos mais evoluídos, de mais elevado nível de vida e de maior densidade de população, do Distrito de Aveiro e encontra-se devidamente electrificado e dotado de uma extensa rede de distribuição de água, que atinge já todas as freguesias, bem como as praias da Barra e Costa Nova do Prado, mercê de um projecto apresentado pelo Município, o qual, em 1968 mereceu a aprovação e uma avultada comparticipação do Ministério das Obras Públicas.
Tem à volta de trinta mil habitantes, a maioria dos quais tem exercido a sua actividade nas fainas do mar, nos trabalhos da lavoura e nas lides domésticas.
Hoje, porém, graças ao grande desenvolvimento industrial, já muitos dos seus filhos encontram ocupação, tanto na parte administrativa como na parte técnica das muitas e variadas fábricas e oficinas, que têm sido construídas e postas a funcionar, tanto na Zona Industrial como em outros locais adequados.
Em todo o concelho nota-se também um enorme incremento urbanístico, com lindas vivendas edificadas por toda a parte, graças aos proventos auferidos pelos seus naturais, que desempenham as suas arriscadas funções nas várias modalidades da pesca, mas, principalmente, a bordo dos grandes arrastões, que vão laborar para zonas longínquas, como a Terra Nova, a África do Sul, a Noruega, a Mauritânia, etc., e ainda às remessas dos emigrantes, que, geralmente também em actividades ligadas ao mar, trabalham afincadamente, na América do Norte, no Canadá, na Alemanha, na Holanda, e na França.
O concelho é composto por quatro freguesias: Ílhavo, Gafanha da Nazaré, Gafanha da Encarnação e Gafanha do Carmo.
A sua sede – Ílhavo – é uma ridente vila, veleira e airosa, que fica situada a cinco quilómetros ao Sul da Cidade de Aveiro.
Esta proximidade, ao mesmo tempo que contribuiu para que, em tempos passados, os seus naturais estudassem no Liceu, na Escola Técnica e na Escola do Magistério daquela cidade, alcançando assim preparação para continuar os estudos, ou para desempenhar cargos de responsabilidade, tanto na função pública, como em actividades particulares, prejudicou-a, também, consideravelmente, no que diz respeito ao desenvolvimento comercial.
A população, muito activa e arrojada, pode dizer-se que é flutuante, uma vez que a maioria dos seus homens exerce a sua actividade profissional, desempenhando as funções de comandante, oficial ou marinheiro, nos vários navios que sulcam as águas dos oceanos e, orgulhosamente, levam a bandeira de Portugal aos portos de todo o mundo.
Assim, não é raro ouvir grupos de marinheiros contar episódios passados, quer em Hamburgo, em Londres, em Anvers, no Rio de Janeiro ou em Singapura, quer em S. João da Terra Nova, na cidade do Cabo ou em Holsteinsborg, como se estivessem a relatar casos ocorridos em terras vizinhas da sua.
As mulheres, particularmente as mais jovens, apresentam-se galantes no porte e no trajar e, talvez pela sua ascendência grega ou fenícia, são muito bonitas, alegres e donairosas, dando imensa graça e encanto à terra onde nasceram.
As outras três freguesias, que, há pouco de mais de um século, não passavam de areais estéreis, onde nada se criava, mercê do esforço hercúleo dos seus laboriosos habitantes – pé no barco, na apanha do moliço da Ria, pé em terra, nos esforçados trabalhos da lavoura – transformaram-se em ricas planícies aráveis, produtivas e muito férteis, onde abunda o milho, o feijão, a ervilha, as pastagens e, principalmente a batata.
Esta riqueza, juntamente com o ganho dos que andam no mar ou estão emigrados, contribuiu para que todas elas, particularmente a Gafanha da Nazaré, atingissem um progresso extraordinário.
Nesta freguesia, que é hoje uma vila em constante desenvolvimento e sede de importantes e valiosas empresas de navegação e pesca, encontra-se situado o porto bacalhoeiro, onde, no regresso das longas viagens, se encontram ancorados dezenas de arrastões, que dão emprego a muitas centenas de pescadores, não só de Ílhavo e das Gafanhas, mas também de muitas outras terras do litoral.
A fim de trabalhar nas secas do bacalhau, deslocaram-se dos concelhos mais pobres do Nordeste Transmontano, do Alto Douro e das Beiras centenas de famílias, que aqui se radicaram, melhorando bastante o seu nível de vida e contribuindo para que a população aumentasse de uma forma considerável.

DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL
Além da antiga e aristocrática fábrica da Vista Alegre, conhecida em todo o país e até no estrangeiro, pela sua magnífica louça de porcelana e pelas finas e belas peças artísticas, tão admiradas e cobiçadas por toda a gente e que, na maior parte das vezes, são escolhidas para presentear as figuras gradas e representativas, que visitam a Nação Portuguesa, um grande surto industrial se tem feito sentir, desde há uns dez ou quinze anos.
A cerâmica – principalmente a fabricação de azulejos e mosaicos – a preparação de barros, a indústria química e os plásticos, a serração e carpintaria, a metalurgia, a pesca, a secagem do bacalhau, as conservas de peixe, a refrigeração e conservação do pescado e de outros produtos, além da construção naval, são algumas das principais indústrias do Concelho de Ílhavo, as quais empregam para cima de treze mil operários.

Praia da Barra (Ílhavo) – Trecho da Ria.

MEIO RURAL – EXPLORAÇÃO ÁGRO-PECUÁRIA
Além das férteis planícies, que já citei, da Nazaré, da Encarnação e do Carmo, também as Gafanhas d'Aquém e da Boavista, da freguesia de Ílhavo, são bastante produtivas, pois todo o seu solo, que é ubérrimo, se encontra muito bem aproveitado, não ficando nada a dever aos restantes lugares do interior da mesma freguesia, tanto a Norte como a Sul e a Nascente, onde se produz uma exploração agrícola intensiva, em regime de pequena propriedade.
Não é pois de admirar que deste concelho se exportem, todos os anos, avultadas quantidades de batata, de feijão e de ervilha, para os grandes centros de consumo e que, devido às boas pastagens, muito do leite aqui produzido, se destine ao abastecimento da capital.

Por Amadeu Eurípedes Cachim
In: Aveiro e o seu Distrito; revista nº 29 de Novembro de 1981

(Continua)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Feira à moda antiga

Hoje, dia de Feriado Municipal, o Grupo Etnográfico participou mais uma vez na "Feira à moda antiga". É uma ocasião excelente para mostrar as tradições e a cultura do nosso município. O Grupo Etnográfico participa com a sua tasquinha, onde serve uns petiscos apetitosos, e revive o modo como os nossos antepassados faziam as suas compras, comendo e bebendo, em são convívio onde não faltavam as danças e os cantares. (Foto do nosso arquivo)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Recordações

Ao remexer numa gaveta descobri esta fotografia antiga do Grupo Etnográfico. Não sei em que ano terá sido tirada. O local é no Jardim Oudinot, bem diferente do que está agora.
Se alguém quiser deixar uma achega quanto ao ano, estão à vontade. Eu só sei que nesta fotografia estou bem mais novo.

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