quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Concelho de Ílhavo - parte III

TURISMO
Podemos afirmar, sem exagero, que Deus dotou de beleza invulgar a região, onde se encontra situado o concelho de Ílhavo.
Formando uma espécie de península, confina a Norte e a Nascente com o concelho de Aveiro e a Sul com o de Vagos, do qual está separado pela ponte de Água-Fria, que atravessa o rio Boco e de onde se pode desfrutar um panorama deslumbrante.
A parte ocidental do concelho é cortado por diversos braços da Ria de Aveiro, com os seus bucólicos e sedutores canais e esteiros, sendo necessárias sete pontes para passar de uns locais para outros, o que, como é sabido, lhe favorece extraordinariamente os atractivos turísticos.
Não é, pois, de estranhar que os antigos tenham posto a algumas das suas povoações nomes tão sugestivos como «Lugar da Vista Alegre» e «Gafanha da Boavista» e à parte mais elevada da Costa Nova do Prado a designação de «Belavista», por dali se poder observar um dos trechos mais fascinantes da extensa laguna.
Esta bacia – espécie de estuário do Canal de Mira – é limitada a Poente, pela marginal da praia, com as suas típicas e encantadoras casinhas, pintadas às riscas de várias cores – os palheiros – e, a Nascente, por extensas zonas de verdura, no meio das quais se divisam as torres de três igrejas, várias vivendas e outras edificações muito branquinhas, tendo por fundo uma frondosa floresta de altos pinheiros, por cima dos quais se avistam, ao longe, os contrafortes da serra, cobertos de luxuriante vegetação.
Em horas de preia-mar, nas suas águas profundas e muito verdes, onde, por vezes, se realizam animadas regatas ou renhidos concursos de natação, podem ver-se airosas e possantes lanchas e características bateiras de pesca, bastante coloridas, devido às pinturas alegres dos cascos e às garridas bóias das suas redes e também interessantes barquinhos e pranchas de recreio «windsurf», cujas velas, de várias cores, lhes emprestam um fascínio extraordinário.
Na parte Oeste, entre o casario e o oceano, encontra-se um extenso e largo areal, onde cabem à vontade muitos milhares de pessoas e cuja areia, muito branca e fina, convida ao repouso e aos salutares banhes de sol.
Para evitar que o mar continuasse a invadir e a comer esse atraente areal, há cerca de doze anos foram executadas as necessárias obras de defesa da costa.
Entre os vários esporões surgiram, então, diversas praias, pouco profundas, de águas límpidas e transparentes, onde quebram ondas, não muito altas, nas quais apetece mergulhar e praticar o excitante desporto do deslizar sobre pranchas (surf).
Esta praia, a Costa Nova do Prado, onde, presentemente, tanto na marginal como na duna, estão a ser executadas obras de grande vulto, mediante um bem delineado plano de urbanização, está, por assim dizer, ligada à Praia da Barra e para elas se dirigem todos os dias, durante a época balnear, algumas centenas de banhistas, através de uma alta, comprida e bem lançada ponte, que atravessa a Ria e serve também de miradouro aos muitos turistas nacionais e estrangeiros, que procuram a região de Aveiro para seu devaneio.
Depois que, em 1968, a Câmara Municipal de Ílhavo mandou construir, numa zona bastante arborizada, um belo parque dotado dos requisitos necessários à prática do campismo, a Praia da Barra experimentou um incremento fora do vulgar, mercê da iniciativa de uma empresa que, submetendo-se a um Plano de Urbanização adequado, fornecido pelo Município, começou por abrir e asfaltar alguns quilómetros de estradas e ruas.
Nessas ruas, principalmente nas que cercam o referido parque de campismo e na que margina a Ria, surgiram, então, como cogumelos, muitas dezenas de belas e confortáveis vivendas, mandadas edificar por pessoas que ali foram atraídas, não apenas pela beleza da zona, mas ainda pelas suas praias, mansinhas e arenosas, e também pelos altos e compridos paredões da entrada do porto, onde, em agradáveis passeios, as pessoas podem assistir à entrada e saída de traineiras, arrastões e navios mercantes, nacionais e estrangeiros, bem como às caprichosas evoluções das velozes lanchinhas de recreio, o que regala os olhos e delicia o espírito.
De cima desses paredões, que, durante a noite são iluminados pela luz forte e intensa do altaneiro Farol, dezenas de pescadores entretêm-se no aliciante desporto da pesca à linha, apanhando, por vezes, belos exemplares de robalos, de solhas, de safios e até de corvinas.
Estes atractivos têm favorecido o constante e rápido engrandecimento da Barra, onde se rasgaram largas avenidas, que se estão a encher de prédios de vários andares, os quais servem para alojar, durante todo o ano, muitas famílias, cujos membros exercem a sua actividade profissional em Aveiro ou nos concelhos limítrofes.
Outra zona de grande interesse turístico, pela sua situação privilegiada, em frente a uma grande bacia, onde foi implantado o triângulo regulador das águas da Ria e do mar, e de onde partem as lanchas de passagem para S. Jacinto, é a povoação do Forte.
Esta designação é devida ao facto de ali, nessa ilha, existir uma antiga fortaleza, assente na água, de cima da qual, em tempos recuados, por meio de bandeiras, se transmitiam os sinais indicadores da barra, aos navios que, de velas enfunadas, demandavam o Porto de Aveiro.
Perto desta fortaleza, encontra-se um enorme e deleitoso jardim, ladeado de palmeiras e banhado pelas mansas águas da Cambeia e do Canal de Oudinot, no qual, pela amenidade do clima, muitos forasteiros se deliciam, descansando das fadigas, apreciando a bonita paisagem ou saboreando apetitosos farnéis, em recintos apropriados para esse fim.
Mas, além das praias, do parque de campismo e de todas as belezas paisagísticas, que acabo de mencionar, Ílhavo ainda se orgulha de possuir dois belos e magníficos museus: – O MUSEU MARÍTIMO E REGIONAL DE Ílhavo – e o – MUSEU HISTÓRICO DA VISTA ALEGRE – e também algumas Igrejas e Capelas dignas de serem visitadas, das quais destaco a de Nossa Senhora da Penha de França, por ser considerada Monumento Nacional.
Ílhavo – Capela da Vista Alegre (Monumento Nacional).

No MUSEU MARÍTIMO E REGIONAL DE Ílhavo, que, presentemente, se encontra instalado num majestoso edifício dotado dos mais modernos requisitos museológicos, além de interessantes pinturas, gravuras e esculturas alusivas ao mar, o visitante poderá admirar um conjunto de modelos de embarcações de todos os tipos e latitudes, as quais documentam, à maravilha, a história das navegações de todos os tempos e ainda alguns valiosos e raros instrumentos de navegação náutica orientada, como o astrolábio, a cábria e o sextante, bem como a melhor colecção de bússolas e agulhas de marear, existentes em Portugal.
Numa sala apropriada para exposição da flora e da fauna marítima, encontrará, como principal centro de interesse, uma valiosa colecção de conchas marinhas, devidamente classificadas, as quais, pela sua beleza, causam a admiração de toda a gente.
E, embora não pretenda descrever todo o magnífico recheio do Museu, não posso deixar de falar nas actividades da Ria, que foram ou ainda são exercidas por homens deste concelho e nos barcos, a bordo dos quais, os ílhavos, com destemor e galhardia, tentaram vencer os oceanos e onde muitos ficaram sepultados.
Das actividades da Ria, saliento as marinhas de sal, com todas as alfaias, as armações e saltadoiros de tainhas e as miniaturas de todos os tipos de embarcações, desde o saleiro e o mercantel até à bateira e à caçadeira, com realce especial para o elegante barco moliceiro.
Nos trabalhos do mar, a atenção do visitante é atraída para os bonitos modelos de embarcações de pesca, que vão desde o famoso barco do mar, em forma de meia-lua, das artes da xávega, até ao mais moderno e sofisticado arrastão, passando pelos airosos lugres bacalhoeiros, aparelhados na perfeição, com todo o seu massa me e majestoso velame.
No convés destes lindos veleiros podem ver-se rimas de dóris, alguns deles equipados com toda a palamenta (1) e, dentro dos quais, os arrojados e destemidos pescadores – cada um no seu – passavam dias inteiros, trabalhando na árdua e perigosa faina da pesca, nesses longínquos, brumosos e gelados mares do fim do mundo.
No que respeita ao – MUSEU HISTÓRICO DA VISTA ALEGRE – apenas direi que é um repositório de arte e beleza que encanta todas as pessoas que o visitam.
Ali se encontram expostas, em ricas vitrinas, muitas e variadas peças decorativas de uso doméstico, bem como maravilhosas obras de escultura e modelação, algumas delas exemplares únicos, de valor incalculável, as quais foram executadas durante o período que vai desde a fundação da fábrica, em 1824, quando ainda se produziam objectos em vidro, até aos nossos dias.
A arte e elegância das peças expostas, tão finas, tão bonitas e com pinturas tão delicadas, faz com que os visitantes – geralmente individualidades de elevada posição social – permanecem longo tempo a contemplá-las e saiam dali extasiados.
E assim, em traços gerais, foram focadas as principais características do concelho de Ílhavo, cujo povo, de índole pacífica, é generoso, trabalhador e ordeiro.
___________________
(1) – Palamenta: apetrechos de bordo.

Por Amadeu Eurípedes Cachim
In: Aveiro e o seu Distrito; revista nº 29 de Novembro de 1981

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