sábado, 31 de outubro de 2009

Farol da Barra de Aveiro

Foco luminoso, eléctrico, foi montado há 70 anos.

O Farol da Barra de Aveiro, situado em pleno concelho de Ìlhavo, na Gafanha da Nazaré, é um ex-libris da região aveirense. Imponente, não há por aí quem não o conheça, como um dos mais altos de Portugal e até da Europa. Já centenário, faz parte do imaginário de quem visita a Praia da Barra. Quem chega, não pode deixar de ficar extasiado e com desejos, legítimos, de subri ao varandim do topo, para daí poder desfrutar de paisagens únicas, com mar sem fim, laguna, povoações à volta e ao longe, a dominar os horizontes, os contornos sombrios das serras de perto e mais distantes.
À noite, o seu foco luminoso, rodopiante e cadenciado, atrai todos os olhares, mesmo os mais distraídos, tal a sua força. Mas são os navegantes, os que mais o apreciam, sem dúvida.
Ora, esse foco, que começou por ser alimentado a petróleo, passou a beneficiar da energia eléctrica em 1936, completando, este ano, 70 anos de existência. Bonita idade para tal melhoramento merecer ser assinalado, embora de forma simples, com esta nota.
Se tem lógica e algum merecimento a recordação desta efeméride, não deixa de ser oportuno e justo lembrar que este ano também se podem celebrar os 150 anos da portaria do ministro das Obras Públicas, engenheiro António Maria de Fontes Pereira de Melo, assinado em 28 de Janeiro de 1856 e dirigida ao director das obras públicas do Distrito de Aveiro, engenheiro Silvério Pereira da Silva, que dá orientações para se avançar, rumo à futura construção do nosso Farol.
(continua)
Artigo da autoria de Fernando Martins e publicado no Livro do XXII Festival, que se realizou a 8 de Julho de 2006.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Baptismo na Gafanha -1

Hoje irei transcrever o que a “Monografia da Gafanha”, do Padre João Vieira Rezende, nos diz sobre o baptismo.
Quando nascia na Gafanha uma criança, a grande alegria dos pais não era menos jubilosa entre a pequenada já existente naquele lar. Era ver a sofreguidão com que cada um dos miúdos reclamava para o seu colo o recém-nascido, e também a ingenuidade com que acreditava nas subtilezas e dissimulações discretamente empregadas pelos pais para comunicar este faustoso acontecimento sem lhes despertar curiosidades prematuras, desnecessárias e inconvenientes à idade infantil.
E as frases anunciadoras, recebidas dos pais, eram transmitidas pelos lábios rosados dos filhos à garotada que brincava na areia despreocupadamente.
- A minha mãe, esta noite, foi buscar um menino à borda! (margem da Ria).
-Meu pai trouxe uma menina da bateira dos labregos!
-Minha mãe achou um menino na Costa-Nova!
-Minha mão foi à feira comprar uma menina!
É assim mesmo.
A mulher da Gafanha diz-se que anda a comprar durante o seu estado de gravidez.
É durante esse período que se vai preparando o enxoval e o berço, que afinal é uma pobre canastra confeccionada com fasquias de verga, constando aquele de duas faxas, duas camisinhas, dois lencinhos, cueiros e fraldas.
Quando esta indumentária se junta para lavar chama-se-lhe “fatiota”.
O que mais importava porem, era o baptismo, que só excepcionalmente se realizava após o oitavo dia do nascimento.
O nome a dar ao catecúmeno era escolhido pelos padrinhos ou pelas madrinhas, conforme o sexo, e era aos avós paternos e maternos que se dava essa honra para os primogénitos. Só para os outros baptizandos serviam de padrinhos os outros membros da família ou outros indivíduos das suas relações.
Cada padrinho oferecia ao afilhado um outro enxoval superior na qualidade ao dos pais; constava de duas camisas, dois vestidos (espécie de bibe), dois lencinhos e uma manta de baeta de um metro.
A criança levava à pia o enxoval da madrinha, ordinariamente mais rico do que o do padrinho, sendo costume adicionar à mantilha (manta), prendendo-se-lhe interiormente com linhas, uma toalha branca, engomada, e com rendas a saírem por cima e a formarem tufo em volta do rosto da criança.
Esta era ainda levada à pia pela parteira que, depois de realizado o baptismo, a ia oferecer a Nª Senhora, prostrada de joelhos diante do altar.

domingo, 25 de outubro de 2009

As Novenas (parte II)

Se a novena era a um lugar perto da Gafanha da Nazaré, regressávamos a casa onde nos era servido um pequeno lanche à base de tremoços, pevides e um ou outro bolito. Para regar o que se comia, bebia-se água do poço e em casos especiais lembro-me bem de ter bebido um pirolito (gasosa em garrafinha com uma bola de vidro a servir de rolha, fixa no gargalo pela pressão do gás do próprio líquido). Se era longe, a merenda era mesmo ali, no largo da capela ou da igreja, a uma sombra qualquer, que naquelas idades nem se dava por ela. Contavam-se umas histórias, cantavam-se umas cantigas, algumas religiosas e ao gosto da "dona" da novena, olhávamos uns para os outros , e vice-versa, brincávamos, corríamos e saltávamos, e a um sinal da chefe lá regressávamos a casa, com uma tarde vivida de forma bem diferente, que naqueles tempos não havia televisões nem rádios com que passar o tempo.
Quantas vezes a organizadora da novena, talvez pelo gosto de se ver rodeada de gente nova, até marcava uma nova novena para o próximo ano. É que, naqueles tempos, os "médicos" do corpo e da alma das pessoas , para além dos curandeiros, eram muitas vezes os santos e Nossa Senhora, a quem se recorria em horas de aflição. Nunca nos lembramos de ter participado em qualquer novena em honra de Jesus Cristo, do Espírito Santo ou de Deus-Pai.
Diz o padre Resende, na sua já famosa Monografia da Gafanha, que "o povo da Gafanha, desde épocas remotas, vai em novena à Senhora de Vagos, a Santa Maria Madalena da Tabueira e do Rio Tinto e a outras igrejas e capelas circunvizinhas". E refere que "nas suas aflições recorrem sempre a Deus ou aos santos, e por vezes o cumprimento das suas promessas era bastante penoso".

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Puros disparates - 2

Aliás, é aqui precisamente, que encontramos duas habituais aberrações, tão caras aos nossos dirigentes folclóricos. Primeiro as noções de “genuíno”, “autentico”, “puro”! Como se existisse algo a que pudéssemos chamar folclore primordial; remontando ao inicio dos tempos, original e imaculado! Depois a noção de que o antigo é “mais folclórico”, mais autêntico, mais prestigiado!
Destes dois equívocos advém, depois um universo de disparates! Apregoa-se por exemplo a representação do “mais genuíno folclore minhoto”, do “mais puro folclore saloio” ou do “mais autêntico folclore ribatejano”! Proliferam as “capitais do folclore”. Proclama-se a especial “riqueza do folclore “daquela terra ou região! Apresentam-se trajes, com “três ou mais séculos”, os quais (se tal pretensão fosse verdadeira), estariam absolutamente descontextualizados de uma representação folclórica que se quer coerente no tempo e no espaço.
Enfim, um autêntico chorrilho de asneiras! Quando afinal, para se construir uma boa representação folclórica, basta apenas apresentar as vivências padrão da área cultural que escolhemos representar. Tanto quanto é possível, claro, hoje conhecê-las. Respeitantes estas, a um tempo a que foi possível remontar, num processo de pesquisa minimamente honesto e rigoroso.
Apenas isto!
P.S.- Se como usa dizer-se, um disparate proferido por uma “eminência parda” é uma tirada genial, calcule-se o que para aí vai de génios! Não admira assim, que os”Óscares” tenham chegado (para ficar já se vê), ao folclore nacional.

Boas leituras
Rubem da Rocha

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Casa Gafanhoa - Um pouco de história (III)

No momento da discussão do Plano Director MUnicipal (PDM), na altura da presidência da Câmara de Humberto Rocha, o Grupo Etnográfico alertou a autarquia para a necessidade de ser contemplada a Casa Gafanhoa já devidamente identificada. Depois desse alerta, a Câmara de Ílhavo tentou negociar o imóvel com os proprietários, sem que o tenha conseguido. E foi no mandato de Ribau Esteves que o negócio se concretizou, para gáudio de todas as partes, em especial dos que acreditam ser esta a melhor solução para o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré poder mostrar às gerações actuais e futuras o que foi e como foi o viver dos nossos avós.
A Casa Gafanhoa, devidamente restaurada em obediência a todas as regras históricas, etnográficas e arquitectónicas, vai servir de museu vivo, depois de mobilada e revestida de todos os pormenores que definem a sua época, ou seja, as décadas de 20/30 do presente século (ver descrição na brochura de 1998).
Em Agosto poderá proceder-se à inauguração da Casa Gafanhoa, se entretanto as obras forem concluídas e houver tempo para a montar com todo o rigor histórico. A partir daí, passará a ser um museu etnográfico, com muito que contar a quem o visitar.
A transcrição deste artigo, que hoje termina, é da autoria do Prof. Fernando Martins e data de Agosto de 2000 tendo sido publicado no livro do XVI Festival de Folclore. Nesta altura perspectivava-se a abertura da Casa Gafanhoa, o que veio a acontecer em 11 de Novembro de 2000.

sábado, 17 de outubro de 2009

Igreja Matriz da Gafanha da Nazaré

A Gafanha da Nazaré é uma terra que tem evoluído muito ao longo dos tempos. Os seus habitantes não têm poupado esforços no sentido de a tornar mais moderna e mais acolhedora, quer para os naturais, quer para quem a visita. Povo religioso por natureza, procura cuidar do seu templo de modo a que também este reflicta a modernidade da terra.

Deixamos aqui alguns registos fotográficos de épocas distintas para ilustrar o que atrás foi dito.



sexta-feira, 16 de outubro de 2009

As Novenas (parte I)

Não é novidade para ninguém se dissermos que os nossos avós eram gente crente, de uma fé inquebrantável bebida no seio da família, onde as oraçõe quotidianas tinham hora marcada. Ao levantar e ao deitar ficavam por conta de cada um, mas às refeições e antes da ceia eram momentos de oração colectiva, com o terço a marcar presença na grande maioria dos lares gafanhões. O pai ou a mãe, se aquele andava embarcado, ou um dos filhos orientava a reza do terço, onde no final eram recordados todos os familiares falecidos, com, por vezes, intermináveis orações por suas almas.
Mas hoje vamos lembrar as novenas que, como o nome indica, eram promessas em que participavam, para além da pessoa em dívida para com qualquer santo ou santa, ou mesmo Nossa Senhora, nove pessoas, normalmente gente muito nova. Também participámos em algumas delas, por motivo que hoje as queremos recordar, sabendo de antemão que alguma coisa passará, tantos são os anos que já se foram.
A "dona" ou o "dono" da promessa fazia os inevitáveis convites a nove meninos e meninas, ou só meninos ou só meninas, rapazes e ou raparigas, conforme o prometido, e no dia aprazado, normalmente ao domingo ou em qualquer dia santo de guarda, lá íamos em grupo, a pé, ora à Senhora da Saúde, na Costa Nova, ora à Senhora dos Navegantes, no Forte, ora ao São João, na Barra, ora à Senhora de Vagos, onde rezávamos o terço e uma ou outra oração da devoção da organizadora da novena, para depois se regressar.
(Continua)
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no livro do XVI Festival de Folclore, realizado em 8 de Julho de 2000.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Puros disparates - 1

Vamos hoje transcrever um trabalho publicado no Jornal Folclore nº 164, do mês de Outubro, da autoria do Dr. Aurélio Lopes.
A ausência de uma adequada uniformidade de conceitos é, provavelmente, o maior problema que se coloca, hoje em dia, ao movimento folclórico. Até porque, deste, decorrem diversos outros, a exemplo da gravosa promiscuidade que grassa nesta área da cultura tradicional portuguesa. Alias, é precisamente a quase omnipresente ausência sistemática de rigor conceptual, que nos impede de aperceber a extrema variedade de projectos e manifestações que, à falta de melhor denominação (leia-se classificação), se acoitam sob a bandeira do folclore. Projectos que vão desde a pretensão cultural de representar, coerente e rigorosamente, vivências tradicionais bem definidas no tempo e no espaço, até à mera utilização de alguns estereótipos populares como matrizes inspiradoras de um espectáculo de animação turística ou recreativa.
Entre estas duas realidades manifesta-se, naturalmente, toda uma infinidade de situações. Todas igualmente respeitáveis, é claro, mas que correspondem, naturalmente e conceptualmente, a realidades diferentes que como diferentes, deveriam ser encaradas.
Necessitamos assim de perceber (antes do mais), o que se entende por Folclore. De nos familiarizarmos com os seus pressupostos de abrangência, diversidade, mutabilidade e principalmente, funcionalidade. Sem eles “andamos ao Deus dará”. À procura de bengalas que usamos a torto e a direito (mais a torto que a direito), mas das quais, muitas vezes, nem sequer sabemos bem o que querem dizer. Necessitamos de interiorizar o que é que se entende por “Cultura tradicional”. Precisamos de saber que esta (como qualquer cultura tradicional ou não), não surgiu por geração espontânea e não nasceu já feita! Pelo contrário, consubstanciou-se através de milénios de aculturações efusões culturais, evoluindo gradualmente até às versões dos nossos dias. E que assim, cada estádio de evolução vale tanto como aquele que o precede e como o que o segue.
(continua)

Boas leituras
Rubem da Rocha

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Fotografias antigas da nossa terra

Farol da Barra em construção
Praia da Barra há uns anos atrás

Esta ponte suponho ser a que ligava o Forte à Praia da Barra. Se porventura não for, agradeço que me corrijam.

sábado, 10 de outubro de 2009

Rigor ou aplauso, o drama do folclore


Navegando pela net encontrei um artigo interessante sobre folclore e que pode ser lido aqui. Espero que o achem interessante, tal como eu o achei, e que sirva de algum modo para uma reflexão profunda sobre a importância de preservar o que os nossos antepassados nos deixaram. Um povo sem memória é um povo sem futuro, ainda mais nos dias de hoje com a tão falada globalização e a consequente perda de identidade.

Casa Gafanhoa - Um pouco de história (II)

Sala do Senhor
Tratava-se de uma vivenda de lavrador rico, que fora também proprietário e gerente de uma empresa de bacalhau, dos anos 20/30, bem conservada e com possibilidades de restauro a condizer com o sonho alimentado pela Direcção e por quantos vivem os problemas histórico-etnográficos com amor e devoção.
Não seria uma casa de um lavrador pobre, que essa já não seria fácil encontrar em razoável estado de conservação, mas de uma família que, tendo outras posses, nunca deixou de amanhar a terra e dela tirar algum sustento para o agregado familiar. Além disso, mantinha traços genuínos com a frente com uma porta e duas janelas e o telheiro e o celeiro ao lado, e ainda com um acesso lateral que conduzia à cozinha e ao pátio interior, à volta do qual se situavam os currais dos animais. As divisões eram pequenas e havia sinais evidentes de usos e costumes próprios dos nossos ancestrais. Da ideia e do sonho partiu-se ao encontro da sua concretização. Em 1991, o Grupo Etnográfico entrega em mão, na Costa Nova, ao então primeiro-ministro Cavaco Silva, uma petição para a aquisição da já desejada Casa Gafanhoa, e no mesmo ano a Secretaria de Estado da Administração Local e do Ordenamento do Território sugere que deveria ser apresentada uma candidatura aos Programas de Equipamento, junto da Comissão de Coordenação da Região Centro, o que foi feito por intermédio da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Ílhavo em 1994.
Continua
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no livro do XVI Festival de Folclore, realizado em 8 de Julho de 2000.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Gafanha da Nazaré – Um pouco da sua história (1)

Vamos hoje transcrever um trabalho elaborado, a partir de algumas fontes, por Maria Noémia Ribau, aquando da frequência do 12º ano, em 1989, na disciplina de História. Sabemos que, com este trabalho, não vamos acrescentar nada ao que já se conhece, mas contudo fica este apontamento.
Importa referir a bibliografia a que se recorreu para a elaboração do trabalho, a saber:
- Arquivos do museu de Ílhavo, Gafanha da Nazaré, A mulher na Gafanha
- Boletim Cultural n.º 1 - 1985, Gafanha da Nazaré
- Boletim Cultural n.º 2 - 1986, Gafanha da Nazaré
- Etnografia Portuguesa Vol. III - 1980, Dr. J. Leite de Vasconcelos
- Gafanha da N.ª S.ª da Nazaré - 1986, Manuel Olívio da Rocha e Manuel Fernando R. Martins
- Monografia da Gafanha da Nazaré 2ª Edição, Padre João Vieira Rezende
Pretende-se com este trabalho, dar uma visão geral sobre a vida de um Gafanhão, no princípio do séc. XX.
Nele serão focados aspectos, factos e superstições desde o seu nascimento até à morte. Para melhor compreensão, será feito um pequeno historial, sobre o aparecimento e desenvolvimento da Gafanha da Nazaré.
A região das Gafanhas começou a ser habitada no séc. XVII e em 1758 era já uma povoação com “ 14 vizinhos ou fogos e 40 pessoas de sacramento”. Era gente humilde que se entregava, com sacrifício à transformação das dunas improdutivas em terra fértil, que hoje mostra bem a tenacidade dos primeiros Gafanhões.
Quem conheceu, mesmo que superficialmente a história desta região, não pode deixar de admirar quantos aqui se estabeleceram, tão radical foi a transformação que operaram neste recanto beijado pelo mar e pela ria. E se, por um pequeno esforço de memória, pudermos imaginar os modestos meios de que dispunham, então terá de crescer essa admiração e o gosto que sentimos de aos mais novos transmitirmos, vestígios de um passado a todos os títulos glorioso.
No século passado incrementou-se o povoamento, graças a gentes vindas principalmente dos concelhos de Vagos e Mira, tão necessitados se encontravam de terra para cultivar. E é curioso verificar como o povo de Ílhavo e de Aveiro nunca se interessou pelo aproveitamento destes areais esbranquiçados e estéreis, passando por eles, sobretudo a caminho do mar.
Terra beijada pelas águas calmas da formosa Ria de Aveiro, a Gafanha nasceu e criou-se, também à sombra do mar e de tudo o que lhe está ligado, ou não fosse ele e os seus portos razão de ser de grandes povoações.
Em épocas diversas esta região foi ocupada e reocupada por gentes de usos e costumes variados, que se introduziram nos usos e costumes dos caseiros que por aqui se haviam estabelecido, com a ânsia primeira de dominarem dunas teimosas e estéreis, à força de braços habituados a trabalhos duros.
Depois foram os trabalhos nas obras do porto e construção do farol, nos estaleiros e nas secas do bacalhau, nas salinas e na plantação da mata da Gafanha que atraíram esses povos, vindos do Minho até às Beiras, sobretudo onde escasseava o ganha-pão.
(continua)

Boas leituras
Rubem da Rocha

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Convívio do Grupo Etnográfico

Realizou-se ontem o convívio do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. Foi um dia bem passado, bem comido, bem bebido e bem cantado. O tempo ajudou à festa e no final todos reconheceram a importância destes convívios que permitem o estreitar de laços de amizade. Deixo aqui algumas fotografias deste dia bem passado.







sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Os róis de gado

Em tempos de antanho as famílias gafanhoas viviam quase exclusivamente da agricultura de subsistência. O que produziam era para sustento próprio e o pouco que restava, que as terras esbranquiçadas produziam avaramente, é que vendiam por Aveiro e Ílhavo. O gado, vacas, bois e porcos, era vendido a negociantes que apareciam nas feiras da região. Os animais de capoeira eram vendidos a galinheiras que apareciam com regularidade. E não havia seguros, em caso de mortandade. Para o gado graúdo, esse sim, havia uns seguros caseiros que se estendiam por vezes a todas as Gafanhas. Eram os róis de gado, normalmente de vacas, bois e porcos. Os róis tinham a sua direcção da qual faziam parte os "louvados", homens entendidos na avaliação dos animais. Nunca conhecemos nenhuma mulher nessas tarefas, talvez por elas serem mais dadas aos trabalhos de casa.
Quando um lavrador comprava um animal registava-o no rol, sendo na altura avaliado, para o proprietário ser recompensado, no caso de morte por doença ou por invalidez causada por acidente. Um corno partido, por exemplo, o que o impedia de puxar o carro ou o engenho de tirar água do poço, para rega.
Não havia quotas à partida, mas sim uma jóia, que ia constituir um fundo de maneio para pagar a qualquer veterinário, que não passava de um entendido em doenças de animais e que trabalhava por avença: no fim do ano recolhia uns tantos alqueires de milho, feijão ou outros produtos que a terra dava; raramente recebia dinheiro, a não ser se isso fosse combinado com o rol ou com os lavradores.
Quando algum animal adoecesse ou ficasse inválido gravemente, sem cura aparente ou garantida, era avaliado e abatido, sendo a sua carne distribuída pelos associados. Em casa do proprietário, sem qualquer higiene, no telheiro, faziam-se montículos de carne, tantos quantos os associados, para serem entregues aos interessados. Claro que nem todos recebiam a mesma quantidade de carne, mas sim tantos montículos quantas as cabeças de gado inscritas no rol.
Posteriormente, uns membros da direcção percorriam as Gafanhas a fazer a cobrança da parte que cada proprietário tinha de pagar, para assim ser compensado o que havia perdido o animal, e dessa forma se livrava de um prejuízo nada agradável para quem não tinha dinheiro em abundância.
De referir que os róis não passavam de associações mútuas sem personalidade jurídica, cujas regras eram aceites verbalmente. De alguns soubemos que tinham uma espécie de estatutos, mas isso não era a norma. De uma maneira ou de outra, todos respeitavam o que estava acordado, mesmo oralmente, aceitavam os pareceres dos "louvados", pagavam o que lhes competia e registavam o seu gado logo que o adquiriam, para não haver complicações.
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no Livro do XVI Festival, realizado em 8 de Julho de 2000.

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