sábado, 30 de janeiro de 2010

Pesca do bacalhau à linha (I)

O lugre bacalhoeiro José Alberto numa viagem aos Grandes Bancos ao largo da Terra Nova.A pesca de bacalhau à linha era praticada por um homem num dóri, vogando no Atlântico norte e entregue à sua sorte ao longo dez horas diárias.

Quantos, dos que aqui estão neste filme, não serão conterrâneos nossos?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Navio Santo André

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

1º Registo de Casamento

Aos desassete dias do mez de Junho, do anno de mil novecentos e onze, na capella da Calle da Villa, d’este logar da Gafanha, concelho d’Ilhavo, Diocese de Coimbra, servindo provisoriamente de Igreja parochial da freguesia de nossa Senhora de Nazareth do mesmo logar, na minha presença compareceram os nubentes Domingos José Soares e Maria de Jesus da Silva, os quaes sei serem os próprios, com todos os papeis do (estylo???) correntes, não lhes apparecendo impedimento algum canónico ou civil; este de vinte e dois annos d’idade, solteiro pescador, natural e morador na freguesia da Murtosa e n’ella baptisado, filho de legitimo de José António Soares e de Maria Joaquina d’Oliveira, naturaes da mesma freguesia, concelho d’Estarreja, Diocese do Porto; ella de vinte e trez annos d’idade, solteira jornaleira, natural d’esta freguesia da Gafanha, filha legitima de Manuel Fernandes Casqueira e de Rosa de Jesus, naturaes d’esta mesma freguesia; a qual foi baptisada na freguesia d’Ilhavo; os quaes nubentes se receberam por marido e mulher, e eu os uni nu matrimónio procedendo em todo este acto conforme o rito da Santa Madre Igreja Catholica, Apostólica romana. Testemunhas presentes, que sei serem os próprios João Peixôto, casado, jornaleiro e Joanna de Jesus Casqueira, casada, ceareira, naturaes d’esta freguesia e nella residentes. E paar constar lavrei este assento, que depois de lido e conferido perante os cônjuges e as testemunhas, não assignam comigo por não saberem escrever. Era ut retro.
O Enconmendado João Ferreira Sardo
Transcrição do 1º registo de casamento na paroquia da Gafanha da Nazaré.

domingo, 24 de janeiro de 2010

O casamento na Gafanha

Para complementar um pouco o que já aqui falamos sobre o Casamento na Gafanha, transcrevemos o que o livro “Gafanha da Boa Hora e o seu povo” do Dr. Manuel Martins Costa, nos diz sobre o Casamento na Gafanha da Boa Hora, que não era muito diferente da nossa.
(…)
… a escolha era feita pelos noivos respeitando os parâmetros tradicionais. Os pais só intervinham depois se o julgassem necessário. A iniciativa era ora do rapaz, ora da rapariga. Esta dava a entender, armava o lanço, diziam os rapazes da época. Se o rapaz simpatizava, combinava novo encontro a que seguiam outros, permitindo um melhor conhecimento mútuo.
Outras vezes era o rapaz quem tinha a iniciativa. Procurava oportunidade para dirigir à rapariga uns galanteios, auscultar a reacção. Se esta era favorável, processava-se o namoro.
Quer o rapaz, quer a rapariga, mas mais esta que aquele, tentavam adivinhar o que pensavam os pais. Se estes não intervinham a sua aprovação era implícita.
Tinha-se muito em consideração a homogamia sócio-profissional, isto é, o casamento operava-se muito no interior do seu grupo social: Jornaleiros com jornaleiras, proprietários com proprietárias. As muito raras excepções só serviam para confirmar a regar.
Também a endogamia geográfica é bem vincada. Dificilmente um de fora da terra vem casar-se aqui. Explica-o mais o profundo isolamento da Gafanha por falta de vias de comunicação, do que o sentimento da comunidade, ver no casamento de um estranho com uma rapariga da Gafanha, uma provocação e um dano para a comunidade e principalmente para os rapazes.
Daqui a frequência de consanguinidade, isto é, o casamento entre parentes afastados, se tornar uma constante.
O namoro também obedecia a determinados hábitos tradicionais. Começava por ter lugar junto do portão da rapariga. Meses depois o rapaz adquiria a liberdade de acompanhar e até auxiliar a rapariga nos afazeres caseiros: tratar do gado, fazer-lhes as camas, mungir as vacas, etc. Numa terceira fase já lhe era permitida autorização para namorar dentro da sala, à luz do candeeiro, a coberto dos olhares indiscretos dos que passavam.
Terminava à hora da ceia. Os familiares comiam da mesma bacia e não convinha repartir a comida. Além disso, era preciso no final arrumar a mesa, dar de comer aos cães e lavar a bacia e os talheres.
Também havia uns dias preferidos. Pouco tempo às terças e quintas e mais uns quartos de hora aos sábados e domingos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O casamento na Gafanha

Fotografia da 1ª Igreja da Gafanha da Nazaré
Antigamente os casamentos realizavam-se aos 24, 25, 26 e 27 anos e eram preparados pelo namoro, que muitas vezes durava sete anos.
Fazia-se na casa da rapariga, à lareira e na presença dos pais.
Era raro ser à porta do telheiro e neste caso, quando a rapariga despedia o namoro, esta quase sempre e com o fim de regresso a casa, o namoro que por isso mesmo é quotidiano e de pouca confiança pelas consequências desastrosas a que tem dado origem.
O casamento faz-se actualmente aos 19, 20, e 21 anos e quando se faz aos 16, 17 e 18 anos costuma ser um mau prognóstico. O namoro dura um e dois anos.
Seis meses antes do casamento o pai do rapaz vai pedir a rapariga. É o que se chama a pedidela, que é feita em casa dos pais dela e celebrada com uma ceia que consta somente de bacalhau ou enguias cozidas com batatas, broa e vinho.
É desde esse dia que os pais dos futuros esposos se começam a visitar e a tratar por parceiros ou senhores parceiros, segundo a idade.
Só nos últimos tempos os noivos começam a pedir a bênção aos pais e sogros e assim continuam a usar quotidianamente e sempre.
Antigamente a toilette do noivo constava de calça, colete e casaco de pano castor, de Saragoça, de briche ou de outras fazendas pretas.
O gabão de burel e mais tarde de Saragoça ou de catrapianha, era uma peça obrigatória. A camisa para este acto era engomada no peito, colarinho e punhos.
O noivo levava chapéu de aba larga e sapatos de 500 reis, grosseiros e geralmente brancos.
Os vestidos da noiva constavam de saia de fraldilha de seis varas e tinha uma forra de baeta preta ou azul, aplicada externamente pela orla, que tinha a largura de oito centímetros.
O paletó era guarnecido com liga de seda ou de lã, a qual, tendo circundado o pescoço, se continuava pela orla das duas folhas e da roda. O paletó não tinha colarinho e mal chegava à cintura.
Punha lenço roxo e o chapéu grande e o capote de feitios, que já foram descritos, completavam a simples indumentária da antiga noiva.
A indumentária de hoje, embora sóbria, já está muito modernizada.
A madrinha do casamento oferece actualmente à noiva uma camisa de Bretanha, um corpete, um lençol, um travesseiro, uma almofada de cama e um guarda-cama. O padrinho oferece qualquer quantia ao noivo e paga as despesas na igreja.
Cada um dos que tomam parte no acompanhamento e no afazer quotiza-se com certa quantia para as despesas do afazer. É o que se chama pagar à mesa.
O protocolo do casamento é o seguinte: Ao entrar na igreja, vão à frente o noivo e o padrinho, a seguir a noiva e a madrinha e depois o acompanhamento de homens e mulheres.
Ao realizar-se o acto litúrgico, ao arco cruzeiro fica o noivo à direita e nesta posição assistem à Santa Missa e comungam junto ao altar. Ao sair, vão à frente os noivos e atrás segue o acompanhamento.

Transcrição do que a “Monografia da Gafanha”, do Padre João Vieira Rezende, nos diz sobre o Casamento.

domingo, 17 de janeiro de 2010

V Encontro de Cantares de Janeiras e dos Reis

O Grupo Etnográfico esteve ontem em Maceda para actuar no V Encontro de Cantares de Janeiras e de Reis organizado pelo Grupo de Danças e Cantares de São Pedro de Maceda. De salientar o lindíssimo cenário onde decorreu a actuação. Retratava uma cena do quotidiano de uma família que vivia na "Quinta de São Pedro" e terminava o seu dia de trabalho tratando da ceia e cuidando do gado e das lides da casa. A determinada altura foram visitados pelos diferentes Grupos participantes que lhes foram cantar as Janeiras e anunciar o nascimento do Deus Menino.

O Grupo Etnográfico levou-lhes os seus tradicionais cantares de Reis e de Janeiras, os mesmos que neste mês de Janeiro estamos a cantar pelas ruas da nossa cidade. Nesta foto podemos ver um pormenor da actuação e do enquadramento no cenário.

Os nossos cantadores de Janeiras aguardavam pacientemente a hora de actuar, visto termos sido os últimos a entrar em cena.
Presente neste V Encontro, o Presidente da Federação deu os parabéns a todos os Grupos pelo trabalho de recolha, preservação e divulgação do património imaterial do povo Português, onde se inclui os cantares, as rezas, as lendas e outros aspectos da Cultura Popular que urge preservar.
Como aspecto menos positivo, e digo-o numa perspectiva construtiva tendente a melhor próximas edições, refiro os longos discursos das autoridades presentes que levaram a que o Encontro terminasse a uma hora bem adiantada.
Mais uma vez convivemos com outros Grupos e partilhámos o que de melhor temos: as nossas tradições.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Federação do Folclore Português reune em Assembleia (III)


“2010 Assinala um novo ciclo da vida da Federação


O encerramento do Encontro de Conselheiros foi pautado por uma declaração do presidente da Federação, Fernando Ferreira. Esperançado na prossecução de um bom trabalho que decerto vai premiar o esforço e cooperação dos vários conselheiros que integram os Núcleos Técnicos Regionais de todo o país, incluindo as ilhas da Madeira e dos Açores. O dirigente acedeu a responder-nos a algumas questões.


O ano de 2010 vai ser finalmente o ano “D” para o movimento folclórico federado?
O nosso objectivo é esse. Estamos a trabalhar no sentido de que todos os conselheiros técnicos adquiram conhecimentos básicos do guião que está a ser preparado no Encontro que estamos a realizar em Águeda. Daqui sairão os critérios avaliativos que servirão de base ao trabalho que irá ser desenvolvido de imediato e durante todo o ano de 2010.
Deve haver um esforço de melhoria dos grupos que revelem deficiências de representação, de acordo com as normas estabelecidas não só estatutariamente como as que vierem a ser produzidas no guião que está em preparação, por forma a que no fim do trabalho que irá ser desenvolvido possamos efectivamente saber quem é quem. Não poderemos continuar a pactuar com resistências a uma melhoria do movimento folclórico que está no seio da federação.


Resistências à melhoria. Isso pressupõe que poderá eventualmente haver exclusões?
Os estatutos apontam para sanções como a suspensão e a exclusão. Mas só se chegará a uma fase punitiva se esgotarmos o diálogo com os responsáveis dos grupos. Naturalmente que a fase de conciliação terá um fim e nessa altura, aqueles que continuarem intransigentes em não acatar aquilo que está estabelecido estatutariamente, terão de ser de alguma forma penalizados. É importante respeitar, sem excepção, as regras estatuárias.


Qual a solução para as regiões denominadas “brancas”, isto é, onde não há conselheiros nomeados?
Permanecem os problemas de nomeação de conselheiros em algumas regiões. Creio que ainda até ao final deste ano se resolverão questões pendentes com esses núcleos técnicos. Iremos de imediato promover reuniões com alguns conselheiros dessas regiões, para indagarmos se há ou não disponibilidade de uma continuada colaboração no terreno. Se não houver essa disponibilidade, teremos de fazer outras opções. A ajuda de conselheiros de outras regiões, que não sejam da área de inserção dos grupos, naturalmente conhecedores, é uma eventualidade a considerar, como uma derradeira forma de solucionarmos situações que se arrastam pelo tempo. Faremos uso de todas as armas que tivermos ao nosso alcance.


É notório o desencanto com a inactividade de alguns conselheiros. Também por esses núcleos técnicos passarão acções de reciclagem?
Vamos tão breve quanto possível, reunirmos com todos os conselheiros nomeados para as zonas que estão a ser prejudicadas por alguma inércia dos colaboradores em quem confiamos uma estreita cooperação. Não faz sentido que as pessoas aceitem determinadas funções, mesmo que de forma voluntaria e depois se demitam das obrigações que assumiram. Uma eventual falta de disponibilidade ou vontade para colaborar, obriga-nos a termos de enveredar por outras soluções, ainda que de forma pontual.


O ano de 2010 assinala um novo ciclo na vida da Federação do Folclore Português?
Sem duvida que sim. Reconhecemos que no conjunto de grupos federados há um leque que não corresponde àquilo que é minimamente aceitável em termos de representação. Temos respeito pelas concepções desses grupos, mas também terão de entender que não podemos continuar a pactuar com erros que maculam todo o universo federado. É inevitável fazermos um filtro entre os membros associados efectivos, até porque há necessidade de melhorarmos a imagem da própria Federação, de forma a que muitos outros grupos, que ainda não são associados, não continuem a manifestar relutância em se juntarem a um conjunto de grupos deficientes de representação.

Entrevista feita a Fernando Ferreira, presidente da Federação do Folclore Português, retirada do Jornal de Folclore nº166, de Dezembro de 2009, assinada por Manuel João Barbosa.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Cortejo dos Reis (II)


Na igreja Matriz, tudo termina com a adoração do Menino que, com sua mãe e S. José, aguarda a chegada dos pastores, Reis e respectivas comitivas. Após essas cenas, mais cânticos se ouvem, enquanto o pároco da freguesia dá o Menino a beijar aos participantes do Cortejo e ao povo que, entretanto, encheu o templo.
Segue-se o leilão de numerosas, variadas e valiosas prendas em ambiente de sã alegria e de generosa participação.
Sobre os autos há ainda pormenores que importa salientar. Referimo-nos aos actores e actrizes que neles fazem viver as velhas e sempre actuais cenas Bíblicas que tanto nos encantam.
As nossas pesquisas não nos levam muito longe e só a figura principal, Rei Herodes, foi possível registar. Assim, recordamos Manuel Caçoilo da Rocha, compilador e adaptador do texto, tal como está, e ainda ensaiador. Também recordamos Domingos Fernandes, Manuel da Rocha Fernandes Júnior, Manuel Fidalgo Filipe (o Perrana) e Manuel Alberto Vilarinho Carlos. Este é Rei Herodes Há cerca de três décadas, ao mesmo tempo que acumula a responsabilidade de ensaiador geral.
(….)
Como ensaiadores dos cânticos, queremos destacar Dionísio Marta e Manuel Alegria. Os cantores variam muito ao longo dos anos e os músicos são oriundos principalmente da Filarmónica Gafanhense (instrumentos de sopro) e tem havido ainda e desde sempre, a colaboração de outros gafanhões (instrumentos de corda).
Os trajes dos Reis e outros foram, durante muitos anos, alugados por Manuel Caçoilo da Rocha e pelos seus herdeiros. Em 1980, o Padre António Borges, com o apoio da Comissão, confeccionou novos trajes aproveitando alguns paramentos gastos pelo uso. E são esses trajes que hoje podem ser vistos.
Falar do Cortejo dos reis, é falar de entusiasmo, de tradições, de usos e costumes por vezes pouco conhecidos, de figuras típicas que se vão perdendo na memória do tempo. Os participantes sem qualquer função definida vestem, por norma, trajes diferentes dos habituais, muitas vezes tentando imitar os trajes minhotos. Razões aparentes não as descortinámos, muito embora se diga que tudo isso se deve a influências dos minhotos aqui radicados. Terão sido os minhotos que mais influências exerceram sobre os gafanhões? São questões que aqui ficam em jeito de desafio aos estudiosos. Mas há outros trajes. Os pescadores, os moleiros, os lavradores, as galinheiras, as mulheres da seca, entre outros mais ou menos expressivos.
De salientar, também, os que se vestem de pobres de pedir, de ciganos, de noivos à antiga, de senhores e senhoras de principio de século, etc.
O entusiasmo de muitos é alimentado por um qualquer animador de lugar que prepara ou faz preparar um carro, ornamentando-o e fazendo canalizar para o grupo as mais variadas contribuições, havendo depois um certo e legitimo orgulho na divulgação dos resultados. Há uma espécie de competição bastante salutar.
Outros há que fazem questão de exibir novidades, apresentando padarias, carros de comes e bebes, representações etnográficas e miniaturas de edifícios da Gafanha da Nazaré: Igreja Matriz, Santuário de Schoenstatt, farol e ainda barcos, etc.
Das iniciativas que mais gente envolve, queremos destacar a “Campanha do Ovo” que a catequese tem posto de pé nos últimos anos. Cada criança traz um ovo ou mais e ainda açúcar, e com tudo isto se fabricam saborosos folares que todas as famílias gafanhoas podem apreciar mesmo antes do Cortejo e principalmente no próprio dia.
No dia do Cortejo, porém, e depois do leilão, também podem ser apreciados os variadíssimos presentes em que sobressaem coisas de comer: bolos dos mais variados tamanhos e aspectos, leitões bem assados, rojões à antiga, chouriços, fruta, coelhos e frangos assados, bolos de bacalhau, tudo bem acompanhado por bons vinhos. Mas há ainda batatas, bacalhau normalmente graúdo e especial, enguias fritas, etc.
Outros presentes completam o rol: passarinho em gaiolas, garrafas de todas as marcas e qualidades, lenha, abóboras, quadros e um sem número de pequenas e grandes coisas demonstrativas da generosidade dos gafanhões.
Os leiloeiros são, normalmente, figuras com jeito especial para este trabalho. Fazem comprar com os seus apartes oportunos, com desafios interpelantes, com frases estimulantes de apetites. Pessoas alegres, fazem mesmo render o negócio. Os gafanhões mais idosos recordam-nos alguns deles, embora seja difícil fazer uma relação exaustiva. Pudemos registar os senhores Bernardino e antes dele um seu familiar, Bola Sardo, Manuel Carlos Faustino, Manuel Fidalgo Filipe, António Ramos Casqueira, Rosa Bola, Manuel Maria Relvas, António Morais e Manuel Alberto Vilarinho Carlos.
Para além dos leiloeiros, outras figuras típicas povoam a nossa memória. Recordamos o coveiro Vechina que tanto cantava e dançava, o Patinha que se apresentava habitualmente de pobre de pedir, com barba crescida, chapéu e roupas velhas e muitos outros de identificação difícil, mas que aqui homenageamos por tanto terem contribuído para a preservação desta festa mais que secular.
Texto da autoria do Sr. Professor Fernando Martins, intitulado Cortejo dos Reis – Subsídios para a sua história, publicado na brochura “Cortejo dos Reis – Um Apontamento Histórico”, da paroquia da Gafanha da Nazaré em 1992.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

V Encontro de Cantares de Janeiras e dos Reis

No próximo sábado, 16 de Janeiro, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré desloca-se até Maceda, concelho de Ovar, para participar num encontro de cantares de Janeiras e de Reis, a convite do grupo local.

É a primeira actuação do ano de 2010. Como sempre iremos fazer o melhor para dignificar o grupo e a nossa terra.

Além do grupo anfitrião e de nós, também participará o Grupo Folclórico Santa Cruz de Vila Meã (Amarante) e o Grupo Etnográfico de Danças e Cantares de Fermêdo e Mato (Arouca).

A chegada a Maceda está prevista para as 18:00, seguido-se o jantar convívio na EB2,3 de Maceda pelas 19:30. A actuação terá início às 21:30, no Auditório da Junta de Freguesia de Maceda e cabe-nos encerrar o encontro.

Em breve daremos notícias sobre as actuações previstas para a restante época folclórica.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Cortejo dos Reis

Agora que a quadra natalícia termina e na nossa terra vamos celebrar os reis, vamos transcrever um pequeno texto da autoria do Sr. Professor Fernando Martins, intitulado Cortejo dos Reis – Subsídios para a sua história, publicado na brochura “Cortejo dos Reis – Um Apontamento Histórico”, da paroquia da Gafanha da Nazaré em 1992.

É sabido que, por muitos recantos de Portugal, do Minho ao Algarve, a quadra natalícia tem sido e continuará a ser inspiradora de manifestações populares de espírito religiosa. São os presépios com arte, sensibilidade e amor, são os Cortejos das Pastoras e dos Reis, são as Janeiras. E todas estas manifestações se apoiam em autos, cânticos, decorações e celebrações com um misto de religioso e de profano. Dessas manifestações natalícias, a que mais se impôs e criou raízes entre nós, foi sem dúvida a do Cortejo dos Reis, cujo início se perde no tempo.

Na ânsia de fazermos um pouco de história sobre esta festa de tanto significado para a nossa comunidade, tentámos descobrir qualquer escrito que testemunhasse esses primeiros passos do Cortejo dos Reis, mas nada de concreto encontrámos. Também nada detectámos sobre o modo como os nossos antepassados celebravam o Natal, quer a nível religioso quer popular. À falta desses testemunhos escritos, só nos pudemos apoiar nas pessoas mais idosas, algumas das quais puderam assistir, na data para nós célebre de 31 de Agosto de 1910, à criação da freguesia. O que essas pessoas ainda hoje dizem, com algumas garantias, é que já os seus pais e avós celebravam o Natal um tanto ou quanto semelhantemente ao modo como hoje o celebramos, salvo as diferenças impostas pelo nosso viver hodierno. E hoje como ontem, a quadra natalícia continua a sensibilizar toda a gente, crentes ou descrentes, católicos ou não católicos, tal é a força da ternura que o Menino inspira, a humildade que comove, a esperança que renasce principalmente entre os mais desprotegidos.
Depois, o hábito tão salutar de se associar ao Natal a festa da família, em que todos se voltam para os mais pequenos, e alguns pensam nos mais pobres, o costume de todos sentirmos e vivermos mais fraternidade, ainda mais valor trouxe à quadra, por natureza de paz e amor.

Mas voltemos ao Cortejo dos Reis, a festa por excelência dos Gafanhões, tal o movimento que gera e a mobilização que provoca entre toda a população. S autos natalícios, os cânticos harmoniosos, o objectivo comum de homenagear o Menino, os grupos que se constituem, as prendas de toda a gente, tudo contribui de forma bastante significativa para uma festa diferente e geradora de fraternidade.


Os autos apresentados durante o Cortejo têm passado de geração em geração por via oral e, que saibamos, só em 1947 aparece um manuscrito que serviu de guião quase até aos nossos dias, possivelmente escrito por Manuel Caçoilo da Rocha.
Tendo desaparecido em data difícil de recordar, foi de novo reproduzido, graças à memória de alguns intervenientes. E assim se tem mantido.
Uma simples análise dos textos leva-nos a concluir que os mesmos se inserem na tradição dos Reis de algumas aldeias da região e que foram inspirados na Bíblia e no Mártir do Gólgota, obra de Peres Escrich.
Os cânticos, simples e harmoniosos, são da tradição popular portuguesa, uns, enquanto outros são tidos como originários da nossa terra e da nossa gente. Muito belos, como quase todos os cânticos de Natal de todo o mundo, estão na memória de muita gente que os canta com toda a naturalidade, Nem por isso, porém, são dispensados os ensaios a partir de meados de Dezembro. Tal como acontece, aliás com os ensaios dos autos. E já que falamos dos autos, e antes de os lermos neste livro, será bom recordar aqui como tudo se processa durante o Cortejo.
Logo de manhã, os participantes juntam-se no extremo da Gafanha da Nazaré, a caminho de Ílhavo. Aí se dá a “Aparição do Anjo” que anuncia aos pastores, estremunhados, a Boa-Nova do nascimento do Salvador. Eles tomam então a decisão de ir adorar o Menino. O cântico que entretanto se faz ouvir, dá inicio à caminhada ao encontro do Menino-Deus acabado de nascer.
No Cruzeiro dialogam dois pastores. Um anuncia ao outro o que viu no caminho. Encontrou-se com uma jovem bela prestes a dar à luz. Ia acompanhada do seu esposo e em Belém não descobriram lugar nas hospedarias. Tiveram, por isso, de se acolher numa gruta onde esperariam a hora de ela dar à luz.
Na Marinha Velha há o diálogo da “Fonte de Elias”. Um árabe considera-se muito importante, enquanto outro lhe lembra que sem Alá nada somos. Surgem, então, os pastores que lhes comunicam a aparição do anjo e o nascimento do Menino-Deus.
No cruzamento das Caçoilas, os Reis notam o desaparecimento da Estrela e reconhecem que estão numa grande cidade. Informado de que buscam um novo rei, um soldado diz que não conhece outro rei que não seja Herodes.
No final do Cortejo dá-se o encontro dos Reis Magos com Herodes, no seu palácio. Convidados por este a procurarem o Menino porque também gostaria de ir adorá-lo, os Reis não voltam ao palácio.


domingo, 3 de janeiro de 2010

Cantar as "Janeiras"

Chegado o mês de Janeiro, é a altura do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré "reviver" uma tradição que já faz parte do nosso plano de actividades e que importa manter bem viva.

Durante este mês, aos fins de semana, iremos percorrer algumas ruas da nossa terra cantando e anunciando o nascimento do Deus Menino.

A todos os que nos receberem e que quiserem connosco preservar o "Cantar das Janeiras" o nosso muito obrigado.

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