segunda-feira, 30 de novembro de 2009

As mulheres da Gafanha (parte II)


“A seca do bacalhau na Gafanha emprega muitas centenas de mulheres, durante parte do ano, havendo secas onde o trabalho é permanente, porque abrange duas campanhas, a dos lugres e a dos arrastões. “Na referência a esta actividade feminina focaremos em especial a Gafanha, visto ser ali que ela atinge o maior desenvolvimento, como é também ali que existem as mais importantes secas do bacalhau de todo o País.” Assim escreve Maria Lamas, que acrescenta: “Pelos costumes e ambiente em que vivem e ainda porque tanto se entregam à lavoura como à faina da seca ou qualquer outra que se lhes proporcione, elas conservam, sob certos aspectos, a mentalidade da mulher do campo; mas a disciplina das tarefas realizadas em comum ou distribuídas numa coordenação de actividades, o sentido das responsabilidade, os horários fixos e ainda o contacto com outras realidades directamente ligadas ao seu próprio esforço vão-lhes dando uma noção diferente da vida e criando consciência da importância do seu labor.” A escritora que andou pela nossa região recorda a maneira de viver das mulheres da Gafanha, com a sua “ignorância”, o conceito de “fatalismo, a que subordinam o seu destino”, mas também o instinto de “defesa dos seus interesses”, tornando-as “solidárias”. E sublinha: “No vestuário revelam maior cuidado na limpeza do que as camponesas, que saltam da enxerga, estremunhadas, antes do luzir do dia, e lá vão, para a labuta sem fim, indiferentes à água, ao sabão, ao pente... “Não se imagine, porém, que as mulheres do povo, naquelas circunstâncias, têm uma vida mais leve e fácil, em relação às suas irmãs que permanecem em contacto permanente com a terra. Com muito poucas excepções, elas fazem longos percursos, de manhã e à tarde, porque moram longe do local onde trabalham.
(Continua)
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no Livro do XX Festival, realizado em 10 de Julho de 2004.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Vida e costumes dos pescadores (parte I)

A vida do pescador está, por assim dizer, concretizada nas companhas, espécie de sociedades organizadas para a indústria da pesca e compreendidas em duas classes.
Numa delas, em que há sócios, ou patrões, que financiam e dirigem a safra, o pescador é simplesmente assalariado e recebe, além do salário, certa porção do peixe a que chamam caldeirada, e uma percentagem sobre o apuro bruto da pesca; pertencem a esta classe as que se constituem para a pesca da sardinha, com a "Arte de Xávega". Quase sempre os patrões assistem a toda a faina, colaborando nos serviços de terra, ou incutindo ânimo aos remadores sempre que acompanham o lanço.
Na outra, que abrange as restantes artes e se compõe, apenas, de pescadores em número variável, a retribuição de serviços faz-se por meio de quinhões do peixe capturado, em partes iguais a cada qual, retirado um terço, ou dois, da pescaria para as despesas da embarcação e do respectivo aparelho.
Nas companhas sa sardinha, o pessoal contratado subdivide-se em dois grupos que se designam por homens do mar e homens de terra, respectivamente pescadores e auxiliares.
Aos primeiros somente incumbe conduzir a rede para o barco e tripulá-lo; aos últimos cabe largar e arribar o barco; preparar a alagem das redes e chamar o gado necessário; estender a rede para secagem e vigiá-la, se esse serviço tiver lugar de noite; repará-la e recolhe-la depois no palheiro; encascar e alcatroar a mesma; colher os cabos de alagem e conduzi-los em seguida; dispor os roletes e varais para a largada ou arribação do barco, e, finalmente chamar o pessoal para os lanços.
Continua

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O linguajar dos gafanhões (parte II)

Linguajar alegre por entre cantigas da época e da tradição popular a desmantar o milho, a fabricar adobos nas dunas junto à mata e depois na construção solidária das casas modestas, na apanha do tremoço, nas novenas que boas almas organizavam para pagar promessas, nas festas e romarias da região, sempre alimentadas pelo espírito de convivência dos gafanhões. De tudo, restam na nossa memória cenas do quotidiano desta gente humilde, mas determinada, que fez as Gafanhas dos nossos dias, o orgulho dos que hoje, vindos de perto e de longe, de quase todo o Portugal, incluindo regiões autónomas e, ainda, dos actuais países de expressão oficial portuguesa, fazem parte integrante dos povos desta península da Gafanha. E todos estes, com a sua maneira de falar e de dizer o essencial do dia-a-dia, de cantar e de rir, de trabalhar e de viver, deram um pouco de si aos povos autóctones, num entrosamento muito feliz.

Mas hoje e aqui, onde nos apetecia continuar a recordar coisas de antanho que vivemos, vamos falar do linguajar destes povos, marcados, e de que maneira, pela vida agreste que as nortadas ainda mais agreste tornavam. Não se trata de uma língua propriamente dita, muito menos de um dialecto, mas única e simplesmente do modo de falar de um povo em que, ainda há meio século, predominava um grande analfabetismo. As meninas não iam obrigatoriamente à escola, e entre os rapazes muitos se esquivavam. E quando não se esquivavam, cedo perdiam o contacto com as letras, porque o trabalho, mesmo em meninos, os absorvia, quer nas tarefas agrícolas e nas marinhas de sal, quer na construção civil, na pesca e na ria. E ainda em indústrias então nascentes, tanto nas Gafanhas, como no concelho de Ílhavo e em Aveiro. A emigração também começou a marcar a nossa gente, e de que maneira, disso ficando rastos de hábitos de vida diferenciados, casas que nada têm a ver com a nossa identidade geográfica e humana, e o espírito de aventura e a determinação que perduram na juventude de hoje!
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no Livro do XV Festival, realizado em 10 de Julho de 1999.

domingo, 22 de novembro de 2009

Convocatória

Maria da Ascensão Vilarinho Pata Farinha, presidente da Assembleia Geral do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, vem por este meio e no cumprimento do disposto no nº 2, alínea B) do Artigo 22º do Regulamento Interno desta Associação, convocar os associados para uma Assembleia Geral Ordinária, a ter lugar no dia 13 de Dezembro, pelas 20:00 horas , na sede desta Associação, sita na Rua Cooperativa Humanitária, nº 11, na cidade da Gafanha da Nazaré, com a seguinte ordem de trabalhos:
1- Leitura da Acta anterior,
2 - Discussão e votação do Plano de Actividades para o ano de 2010,
3 - Votação do Orçamento de Despesas para o ano de 2010,
4 - Votação do Orçamento de Receitas para o ano de 2010,
5 - Outros assuntos de interesse para a Associação.
No caso de à hora marcada para o início desta Assembleia Geral, não estarem presentes o número mínimo legal de Associados, será a mesma suspensa e na mesma data, local e com a mesma ordem de trabalhos, funcionará passados 30 minutos, com qualquer número de Associados presentes (Alínea 2 do Artigo 25º do Regulamento Interno).

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

As mulheres da Gafanha (parte I)

As mulheres da Gafanha merecem um estudo profundo sobre o seu papel na construção das povoações e das comunidades desta região banhada pela Ria de Aveiro. É certo que alguns estudiosos e escritores de renome já se debruçaram sobre elas, cantando loas à sua tenacidade e coragem, mas também ao seu esforço, desde sempre indispensáveis na luta de transformação de areias improdutivas em solo ubérrimo. Há décadas, e é sobre essas mulheres que nos debruçamos, elas eram as mães solícitas e amorosas dos filhos, mas também os “pais” que garantiam o sustento da casa, enquanto os maridos se aventuravam nas ondas do mar na busca de mais algum dinheiro que escasseava em terra. Em jeito de desafio a quantos podem e devem, pelos seus estudos e graus académicos, retratar as nossas avós, com rigor histórico, já que, hoje e aqui, não há lugar nem tempo para isso, apenas indicamos algumas pistas, que há mais de 50 anos nos foram oferecidas por Maria Lamas, na célebre obra “As mulheres do meu país”, que viu há tempos a luz do dia em 2ª edição, numa iniciativa da “CAMINHO”, e que tão esquecida tem andado.
Na década de quarenta do século passado, Maria Lamas, que faleceu em 1983, com a bonita idade de 90 anos, andou pelas Gafanhas, mais concretamente pela Gafanha da Nazaré, olhando, conversando, retratando e estudando as nossas avós. “O esforço da mulher na labuta comum e a sua influência no desenvolvimento da Gafanha são apontados, em toda a região de Aveiro, como um exemplo admirável”, afirma a escritora, depois de se referir, a traços rápidos, à localização da região que estudava, e de citar as areias e os ventos, as marés e a vegetação, as batatas e os cereais, as salineiras e as pescadeiras, as trabalhadoras das secas do bacalhau. E foram, sobretudo estas, as mulheres das secas, as que mais a entusiasmaram, ou não fossem elas o exemplo claro da camponesa e da operária na mesma pessoa.
Artigo da autoria do Prof. Fernando e publicado no Livro do XX Festival, realizado no dia 10 de Julho de 2004.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Farol da Barra de Aveiro (parte III)

Os trabalhos não foram tão céleres quanto seria de desejar, o que levou o ilustre parlamentar José Estevão a pedir ao Governo, em 4 de Julho de 1862, na Câmara dos Deputados, a construção de um farol na nossa costa. No ano seguinte, em 15 de Setembro, a Câmara Municipal de Aveiro apresentou a el-rei D. Luís uma exposição, requerendo a edificação de um farol ao sul da barra.
Para justificar a sua petição, a autarquia aveirense recorda que importa "evitar os naufrágios que tão frequentes se têm tornado nestes últimos tempos, no extenso litoral entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro". E acrescenta: "Ninguém pode duvidar, Senhor, que numa costa tão extensa como acidentada, em que as restingas ou cabedelos se formam pela a violência das correntes, cuja direcção varia diariamente, um farol evita que os navios, se singram próximo de terra, se enganem no rumo, vencendo as dificuldades da navegação sem correrem o risco de naufragar nos bancos de areia, às vezes em noites bonançosas, como infelizmente tem sucedido entre nós."
A resposta do Governo não tardou. No dia 26 de Setembro de 1863, uma portaria governamental ordena que se fizesse o projecto e o orçamento. O projecto foi concluído em 5 de Abril de 1884 e os trabalhos da construção iniciaram-se em Março de 1885.
A inauguração oficial do farol aconteceu em 31 de Agosto de 1893.
FIM
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no Livro do XXII Festival, realizado em 8 de Julho de 2006.

sábado, 14 de novembro de 2009

O Baptismo na Gafanha - 3

A prevenir estes perigos, há necessidade de colocar durante a noite sobre a criança as calças do pai, com a perneira esquerda desvirada e de dia e de noite dependurar umas tesouras abertas junto à cama.
São desnecessárias estas precauções quando os meninos já não são pagões.
A criança não é lavada no dia do baptismo e após ele por respeito à água baptismal.
Eis como as mães embalam os filhos.
………….
Nana, nana, meu menino,
C’a tua mãe logo bem:
Foi labá-las fraldinhas
Á fonte de Belém.

O mê menino é d’oiro,
D’oiro é mê menino;
Hê-de entregá-lo ós anjos
Incanto é pequenino.

Vai-te embora, papão negro,
De cima de mê telhado;
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado.

Quem tem o nome de mãe
Nunca passa sem cantar;
Cantas vezes a mãe canta
Com vontade de chorar.

In “Monografia da Gafanha “ do Padre João Vieira Resende.

Boas leituras

Rubem da Rocha

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O linguajar dos gafanhões (parte I)

Retrocedendo no tempo, qualquer coisa como meio século, tanto quanto é necessário para chegar à nossa infância, vislumbramos na memória, qual retrato ainda não embaciado pela pátina do tempo, os gafanhões que ajudaram a erguer esta terra, marcada à nascença por uma mistura de povos na sua maioria semianalfabetos ou mesmo analfabetos, sob o ponto de vista académico, sobretudo, mas obstinados no seu querer. De vontade indómita, trabalharam a terra, primeiro, coisa que sabiam fazer como poucos, ou não estivessem eles habituados a lavrar e a cavar areias movediças e esbranquiçadas, que pouco lhes oferecia de volta, e aventuraram-se na ria e no mar, depois, numa ânsia desmedida de irem mais além. E nessa labuta diária, que deixou marcas indeléveis no temperamento e no carácter dos gafanhões , doaram-nos uma cultura de que hoje nos orgulhamos, nós, os que presentemente somos os legítimos herdeiros desses cabouqueiros das Gafanhas que se deixam beijar pela ria e pelo mar, com ternura, e que depois partem à procura de novos mundos.
Cultura essa que tem sido, desde a primeira hora, no já distante século XVII, e até aos nossos dias, mesclada de outros saberes e dizeres vindos um pouco de todo o país, dando-lhe um sabor que se vai perdendo no tempo. Hoje, com a evolução do ensino e com a influência dos diversos meios de comunicação social, e também graças ao contacto com povos de todo o mundo, que a vida do mar proporciona, os gafanhões já falam mais escorreitamente, de maneira bem diferente, por exemplo, dos tempos da nossa meninice, da década de 40, a que estamos a conduzir a memória já gasta pelos anos, é certo, mas felizmente lúcida para ouvir o linguajar cantado do nosso povo, nas fainas da ria e do mar, e principalmente nas tarefas do campo, por onde brinquei por cima de restolhos com bolas de trapos, entre searas ao escondedouro, na estrada aos "calarotes", aos ninhos na mata da Gafanha que pouco depois via nascer a Colónia Agrícola, na borda à pesca da macaca, do caranguejo e de algum perdido robalito.
(Continua)
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no Livro do XV Festival de Folclore, realizado em 10 de Julho de 1999.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Grupo Folclórico de Vila Verde



Para todos aqueles que gostam de Folclore, iniciamos hoje a apresentação de alguns bons Grupos ou Ranchos Folclórico ou Etnográficos, representativos das várias regiões de Portugal. Espero que gostem.

O Grupo Folclórico de Vila Verde foi fundado em 1958 com o intuito de divulgar e preservar as tradições Etno-Folclóricas deste Concelho que representa, constituído por 58 freguesias predominantemente agrícolas, assim como a região do Baixo Minho, onde se encontra inserido, sendo o mais antigo e representativo Grupo Folclórico do Concelho e um dos mais antigos da região e do país.
Tem participado em todo o país em diversos, variados e mais importantes Festivais de Folclore, de Norte a Sul, inclusive na Região Autónoma da Madeira, e ainda na EXPO 98; e, no estrangeiro, várias vezes em Espanha, incluindo as Ilhas Canárias, França e Alemanha, e também na Itália, Áustria e Eslováquia.

Dentro das suas actividades de difusão do Folclore, realizou Exposições de Trajes e de Instrumentos Musicais; tem participado em programas de Rádio e Televisão; recupera e divulga tradições esquecidas no tempo como os Cantares de Reis, Cânticos Religioso-Populares, Dança do Rei David, entre outros.

Organiza anualmente o Festival Folclórico de Santo António – Luso / Espanhol, que tem sido ponto alto das Festas Concelhias de Vila Verde, onde participam, normalmente, grupos portugueses de regiões variadas e grupos espanhóis, também de diferentes regiões.
Organiza desde 2001 o Festival Folclórico InterNações (Julho) com o objectivo de trazer a Vila Verde, Povos, Tradições e Culturas de todo o Mundo.

É Sócio Efectivo e Fundador da Federação do Folclore Português, onde ocupa lugar no Conselho Técnico; está inscrito no Inatel; foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Municipal em 1983 ao atingir 25 anos de existência; e é Instituição de Utilidade Pública por Despacho Governamental desde 1992.

Historial transcrito do "sítio" do Grupo Folclórico de Vila Verde (http://www.gfvv.web.pt/).

domingo, 8 de novembro de 2009

Farol da Barra de Aveiro (parte II)

Reza assim, na parte que nos diz respeito, como se lê na revista "Arquivo do Distrito de Aveiro", em artigo assinado por Francisco Ferreira Neves:
" Há por bem sua majestade el-rei (D. Pedro V) ordenar que o director das obras públicas do distrito de Aveiro, de combinação com o capitão daquele porto, e com o director-maquinista dos faróis do reino, trate de escolher o local nas proximidades da barra que for mais próprio para a construção de um farol, devendo o mesmo director, apenas se ache determinado o dito ponto, proceder, de acordo com o referido maquinista, à confecção do projecto e orçamento da respectiva torre com a altura conveniente para que a luz seja vista a dezoito ou vinte milhas de distância.
Sua majestade manda, por esta ocasião, prevenir o sobredito funcionário de que encomendará em França, para ser estabelecido no mencionado local, um farol lenticular de segunda ordem, do sistema de Mr. Fresnel, e semelhante ao que se destina ao Cabo Mondego, cujo desenho se lhe envia, com a diferença, porém, de ser girante para o distinguir dos faróis que lhe ficam ao norte e ao sul daquele porto"
A Barra de Aveiro tinha sido aberta em 1808 e eram conhecidos os riscos que ela oferecia à entrada das embarcações, "com prejuízos que podem resultar à humanidade e ao comércio", como se sublinha na referida portaria.
No mesmo artigo de Francisco Ferreira Neves, lembra-se que a comissão nomeada para a determinação do local em que deveria ser construído o farol deu o seu trabalho por concluído em 11 de Julho de 1858. Entretanto, os naufrágios sucediam-se entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro, "por falta de sinalização luminosa nesta parte da costa marítima".
(Continua)
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no Livro do XXII Festival de Folclore, realizado em 8 de Julho de 2006.

sábado, 7 de novembro de 2009

O Baptismo na Gafanha - 2

Formado imediatamente o pequeno cortejo para casa, nela se entrava pela porta da cozinha e não pela da sala porque não era "bô".De regresso da igreja, o neofitozinho era apresentado à mãe pela madrinha que dizia: -“Aqui tendes o vosso menino; daqui o lubámos pagão e aqui o trazemos cristão, pela graça de Deus e do Sp’ito Santo”. A mãe, muito comovida, agradecia com expressões similares, cheias de muita fé e de muitas lágrimas, a graça que Nosso Senhor lhe fez, porque o seu menino já tem alma. Cena deveras emocionante, a que não ficavam indiferentes os circunstantes!
A seguir todos se sentavam à mesa e as crianças, à parte, pelo chão e em esteiras, para o jantar, não sendo excluída a família dos padrinhos. Na véspera tinha sido abatido um carneiro ou uma ovelha, que ao tempo não excedia o preço de 500 ou 600 réis.
Três pratos apenas, mas abundantes, sendo o primeiro a sopa de couve com batatas inteiras e negalhos ou molhinhos. Era o prato obrigatório e predilecto da maioria.
Os negalhos eram bocados do bucho e do fato gordurento do carneiro, de toucinho e hortelã, atados em molhinhos com linhas.
A seguir vinha outro prato, ou melhor, a frigideira com o refogado da outra carne que era condimentada com batatas ou com arroz.
De futuro e pela Páscoa, até ao casamento dos afilhados, os padrinhos iam levar-lhes os folares a que chamavam bolos, comprados em Aveiro à padeira de Eixo. Não tinham mais do que 2 ou 3 ovos com excepção do útimo que era no ano do casamento e que tinha 6 ovos.
Os afilhados iam agradecer aos padrinhos, pedindo-lhes a bênção de joelhos. Hoje consiste este agradecimento em ir estimar os padrinhos, oferecendo-lhes amêndoas e vinho, sendo rapazes.
Ainda se conserva o costume de os afilhados saudarem os padrinhos pedindo-lhe a bênção. Todos estes costumes têm recebido levíssimas alterações.
Aos nascimentos e baptismos andam ligadas muitas superstições. Eis algumas:
Se durante a gravidez a mulher trouxer no refego da cintura da saia qualquer objecto, a criança nasce defeituosa. Assim, se a criança nasce com o lábio fendido é sinal de que a mãe trouxe alguma chave no bolso ou na cintura durante a gestação.
Finas manchas rubras a pontear a epiderme denunciam a imprevidência da mãe costureira que arrecadou as agulhas em qualquer dobra dos vestidos junto à cintura.
Outras quaisquer colorações pigmentares, manchas ou sinais que interessam a epiderme da criança, têm a sua explicação no transporte de objectos na cintura, que estejam de harmonia com as colorações figuradas. Pois se a coloração figurativa de uma colher existente no braço de uma mulher, que ainda aqui vive, é apresentada como argumento indiscutível da falta de cautela da mãe! ...
Já não há perigo se os objectos se trouxerem na blusa.
A criança corre sempre o perigo de ser chuchada pelas bruxas antes do baptismo e deste modo morre sem alma. Por vezes a criança aparece viva, mas doente, fora do berço ou a grandes distancias. A criança é chuchada pelas unhas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

As Novenas (parte III)

Claro que os tempos são outros e hoje as novenas caíram em desuso, tão certo estamos disso por não as vermos organizadas por esta Gafanha da Nazaré. Nas outras Gafanhas, não sabemos se ainda se mantêm, ou se também já foram trocadas por outras formas mais modernas de pagar promessas feitas em honra de aflições.
Não sabemos o porquê de essas promessas se apoiarem em nove meninos e meninas, rapazes ou raparigas, mas julgamos que o número nove terá algum valor simbólico ou mágico, a que os antigos estavam muito agarrados. Lembremos as orações e as comunhões nos nove primeiros sábados, por exemplo.
As novenas, como outras promessas feitas pelos católicos, estão também ligadas ao hábito de alguns quererem associar outras pessoas ou familiares às suas devoções. Nós próprios cumprimos algumas promessas feitas por outras pessoas. Minha mãe fez várias promessas que eu achei por bem cumprir para a não desgostar. E não só por isso. Se me diziam directamente respeito, porque não haveria de colaborar com quem teve a bondade e a devoção de interceder junto de Nossa Senhora por mim?
FIM
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins e publicado no Livro do XVI Festival, realizado em 8 de Julho de 2000.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Jantar de Angariação de Fundos

É já no próximo sábado, dia 21-11-2009, que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré vai realizar mais um jantar de angariação de fundos, pelas 19:30 horas, no Centro de Recursos Mãe do Redentor, na Colónia Agrícola.
A ementa será a seguinte:
Pêssego com presunto
Sopa de legumes
Rojões à Gafanhão
Fruta e doces variados
Vinhos, sumos, café e digestivo.
O custo é de 10 euros por pessoa.
Todas as pessoas se podem inscrever, basta para isso contactar qualquer elemento do grupo, ou através dos telefones:
Lurdes Matias – 966 353 980
Ferreira da Silva – 917 583 111
Rubem – 963 225 283
Vamos fazer deste jantar um grande convívio entre todos os participantes. Inscreve-te e traz um amigo.

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