domingo, 20 de fevereiro de 2011

Infância

Para complementar um pouco o que já aqui falamos sobre o baptismo na Gafanha, hoje irei transcrever o que o livro “Gafanha da Boa Hora e o seu povo” do Dr. Manuel Martins Costa, nos diz sobre a infância na Gafanha da Boa Hora, que não era muito diferente da nossa.
A infância
(…)
Tratam-nas com maneiras razoáveis para ganharem a sua confiança mas, não raras vezes usam meios severos e recorrem a castigos corporais, certos que o temor do castigo é o melhor remédio para desencorajar os filhos de práticas que os pais não desejam.
Também têm preocupações com a sua higiene e saúde física. Mas as suas carências e os afazeres múltiplos impedem uma eficaz assistência. Mas primam por lavá-los à noite e dar-lhes roupa limpa embora pobrezinha e com frequência, remendada. Numa grande panela aquecia-se água ao lume enquanto se ceava. Finda a ceia uns arrumavam a mesa, lavavam a bacia de comer e os garfos ou colheres, outros iam buscar o alguidar de barro vermelho envidraçado para lavagem das pernas. Recorde-se que todos andavam descalços e de calças arregaçadas, o que os obrigava a lavarem as pernas à noite. O pai era o primeiro seguido da mãe. Os filhos iam esperando pela sua vez sentados na pilheira e em redor do borralho. A ordem era pelos mais velhos. Só quando a água estava muito suja era despejada na estrumeira e substituída por outra limpa e quente. Se os filhos eram poucos lavavam-se todos na mesma água.
Só então se ia para a cama. As crianças pequenas eram lavadas no final pela mãe no mesmo alguidar mas em água morna e limpa. De manhã, ao levantar, lavava sempre a cara em água fria para auxiliar a despertar e recomeçar a azáfama da vida. Como não havia casa de banho os filhos, quando julgassem necessário e oportuno, iam à Ria tomar banho, nadar, lavar-se. A maior parte das vezes faziam-no quando da apanha do moliço, da lama ou da pesca. Isso não impedia a lavagem em casa de todo o corpo em água morna dentro de grandes bacias.
(…)
Os pais preocupavam-se com a doença dos filhos. Sofriam com eles e tudo tentavam para os curar. Recorriam a mezinhas caseiras, ao médico e em última instância, a bruxedo. De salientar que o recurso ao médico só tardiamente o faziam. A Gafanha, sem estradas e isolada de Vagos pelas dunas, sentia dificuldades tremendas para consultar um médico. (…) Recordo-me que, nos primeiros anos de trinta, um homem foi anavalhado numa daquelas rixas de copos. Os familiares atarantados e de poucos recursos, optam por o transportar de barco para Aveiro onde, já infectado, veio a falecer.

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