– Uma História de lobisomens
O Janicas, já falecido, era pessoa simples e honesta. Era lavrador. Ficara sem pai ainda criança com um irmão mais novo e foi criado pela mãe, a Ti Albertina Janicas. Casou já “entradote”, como ele dizia.
Claro que namorava muitas cachopas mas só encalhou com a Laura, natural de Vagos onde vivia. Ia namorá-la à noite, às terças, quintas, sábados e ao domingo de bicicleta.
Contava ele:
“Já havia uma estradita de terra batida que ligava a Gafanha da Boavista a Vagos e como de costume lá fui namorar a Laura de bescleta. As casas eram poicas e ali nos cardais, a partir do pontão nem habia casa nenhuma. Não habia luz, o caminho era escuro, negro com’o breu. Nunca acontecera nada, mas naquela noite já binha p’ra casa e ali na altura dos Cardais, na Quinta da Palmirinha, sinti uma coisa sempre atrás de mim e pus-me a pedalar mais; mas, o raio da bescleta parecia que nem andava, canto mais eu pedalaba, mais a coisa corria. Parcia-me passos de animal e logo pensei: - Ó é alma penada ó balisome.
Só sumbe o que era qu’ando cheguei a casa saí da bescleta e abrim o portão. A coisa ainda introu primeiro ca mim – era o cão que partira o cadeado, fugiu e foi ao meu encontro.”
Nem estas evidências demoviam a crendice deste povo que, a par da sua profunda e convicta fé e religiosidade, era muito supersticioso, acreditando em poderes estranhos e que muito temia.
– Os Amuletos
Amuletos eram objectos que as pessoas traziam consigo e aos quais atribuíam qualquer virtude ou poder de protecção.
As pessoas adultas usavam ao pescoço, bem escondidas, por vezes presas com alfinete de segurança na roupa interior ou penduradas numa fita umas saquinhas com “armações”; usavam também uma argola de aço e, muitas pessoas mandavam fazer um anel também de aço, com o signo-saimão ou uma estrela com o número ímpar de pontas, esculpidos. Este anel nem sempre era usado no dedo, mas junto à saquinha da armação.
As crianças usavam também amuletos: signo-saimão, figas meias luas, corações, chifres de azeviche para ficarem protegidas das bruxas, do mau-olhado e de todo o mal de inveja.
Ao trazer estes amuletos consigo, o povo chamava “andar armado”. No carro de bois ou na carroça das vacas os lavradores penduravam por baixo, um par de chifres ou “cornos”, como o povo dizia. Na porta da cozinha, no portão e também nas portas dos currais do gado, pregava-se uma ferradura. Todos estes amuletos eram usados só depois de levarem a “benzedura ou reza”, feita por uma mulher de virtude; se assim não fosse, não produziriam efeito, isto é, não teriam poder para afastar e impedir o mal rogado e desejado pelos invejosos ou afastar os espíritos maus.
In “Gafanha…o que ainda vi, ouvi e recordo”, da Sr.ª Professora Maria Teresa Reigota.
Boas leituras
Rubem da Rocha
O Janicas, já falecido, era pessoa simples e honesta. Era lavrador. Ficara sem pai ainda criança com um irmão mais novo e foi criado pela mãe, a Ti Albertina Janicas. Casou já “entradote”, como ele dizia.
Claro que namorava muitas cachopas mas só encalhou com a Laura, natural de Vagos onde vivia. Ia namorá-la à noite, às terças, quintas, sábados e ao domingo de bicicleta.
Contava ele:
“Já havia uma estradita de terra batida que ligava a Gafanha da Boavista a Vagos e como de costume lá fui namorar a Laura de bescleta. As casas eram poicas e ali nos cardais, a partir do pontão nem habia casa nenhuma. Não habia luz, o caminho era escuro, negro com’o breu. Nunca acontecera nada, mas naquela noite já binha p’ra casa e ali na altura dos Cardais, na Quinta da Palmirinha, sinti uma coisa sempre atrás de mim e pus-me a pedalar mais; mas, o raio da bescleta parecia que nem andava, canto mais eu pedalaba, mais a coisa corria. Parcia-me passos de animal e logo pensei: - Ó é alma penada ó balisome.
Só sumbe o que era qu’ando cheguei a casa saí da bescleta e abrim o portão. A coisa ainda introu primeiro ca mim – era o cão que partira o cadeado, fugiu e foi ao meu encontro.”
Nem estas evidências demoviam a crendice deste povo que, a par da sua profunda e convicta fé e religiosidade, era muito supersticioso, acreditando em poderes estranhos e que muito temia.
– Os Amuletos
Amuletos eram objectos que as pessoas traziam consigo e aos quais atribuíam qualquer virtude ou poder de protecção.
As pessoas adultas usavam ao pescoço, bem escondidas, por vezes presas com alfinete de segurança na roupa interior ou penduradas numa fita umas saquinhas com “armações”; usavam também uma argola de aço e, muitas pessoas mandavam fazer um anel também de aço, com o signo-saimão ou uma estrela com o número ímpar de pontas, esculpidos. Este anel nem sempre era usado no dedo, mas junto à saquinha da armação.
As crianças usavam também amuletos: signo-saimão, figas meias luas, corações, chifres de azeviche para ficarem protegidas das bruxas, do mau-olhado e de todo o mal de inveja.
Ao trazer estes amuletos consigo, o povo chamava “andar armado”. No carro de bois ou na carroça das vacas os lavradores penduravam por baixo, um par de chifres ou “cornos”, como o povo dizia. Na porta da cozinha, no portão e também nas portas dos currais do gado, pregava-se uma ferradura. Todos estes amuletos eram usados só depois de levarem a “benzedura ou reza”, feita por uma mulher de virtude; se assim não fosse, não produziriam efeito, isto é, não teriam poder para afastar e impedir o mal rogado e desejado pelos invejosos ou afastar os espíritos maus.
In “Gafanha…o que ainda vi, ouvi e recordo”, da Sr.ª Professora Maria Teresa Reigota.
Boas leituras
Rubem da Rocha
1 comentário:
Olá!
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(DORAVANTE SÓ CONTINUAREI SEGUINDO BLOGS QUE ME SEGUIREM. IMPOSSÍVEL FORMAR REDE SÓ QUANDO UM LADO SEGUE - PRECISAMOS SOMAR - RECIPROCIDADE)
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