segunda-feira, 10 de maio de 2010

Superstições e Crendices - II

A esses amuletos, orações falsas, datas e números de cabalística, com todo o ritual na sua aplicação supersticiosa, atribui-se um poder e virtude infalíveis. Assim: Para curar ínguas fixa-se uma estrela e faz-se por cinco vezes a seguinte invocação: “estrela! A minha íngua diz que seques tu e que reine ela, mas eu digo que seque ela e que reines tu!”. Para tirar trasorelho, fricciona-se o local doente com nove olhos de hortelã e coloca-se ao pescoço do doente uma canga, enquanto se diz determinada oração. Só pode atalhar o zagre quem estiver em jejum no momento de o cercar com água e nove olhos de erva-doce, apanhados antes do nascer do sol. Para curar de ógado (aguado) deve o menino doente ser aleitado por três mães que andem amamentando cada uma as suas meninas, e se o doente é menina deve ser aleitada igualmente por três mães que criem os seus três meninos.
Para cortar lombrigas besunta-se o ventre da criança com ferrugem, passando uma faca sobre o ventre com o gesto de cortar; as lombrigas morrem.
Tira-se o mau-olhado bebendo água de fermento, com o que passam as dores de cabeça. Para tirar o sol, escolhe-se um dia límpido, e das 11 às 12 horas tapa-se com um pano um copo cheio de água e assim preparado, coloca-se sobre a cabeça, voltado com o fundo para cima; é claro que, em virtude das leis da física, a água do copo desce, enquanto que o vácuo estabelecido dentro dele vai ser ocupado pelo ar que sobe, sob a forma de bolhas, através da água; dizem então que a água ferveu e que ficou tirado o sol. Outra receita para cortar as lombrigas é escrever no fundo de um prato branco uma oração a Santo Onofre, lavando em seguida a tinta com água, que é ingerida pelo doente que desde logo fica curado. O aguado também pode curar-se comendo três rabos de bacalhau e não mais nem menos. Cerca-se a erisipela dizendo uma espécie de oração e cercando o ponto doente com um ramo de oliveira já previamente besuntado com sangue de galinha preta, azeite e farinha.
Seria um nunca acabar de despautérios cujos simples enunciados encheriam muitas folhas deste volume.
(Continua)
In “Monografia da Gafanha” do Padre João Vieira Rezende.

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails