quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Vida e costumes dos pescadores (parte IV)

O trajo do Pescador caracteriza-se pelo uso de camisa de lã de padrão axadrezado e variável na cor; trozes ou ceroulas, de tipo e qualidade igual, mas geralmente de tons mais claros do que aquela, e, na alternativa, manaia branca ou crua, espécie de bragas em pano de algodão, cinta ou faixa, preta, de lã, franjada nas extremidades e, finalmente, barrete ou carapuça preta em malha de lã com borla do mesmo na extremidade.
Os trozes são de amarrar aos tornozelos mas, habitualmente, usam-nos arregaçados por altura do joelho. A manaia é usada especialmente no Verão, e só no mar.
De Inverno acrescentam o trajo com o gabão. Quando assim é, costumam arregaçar os trozes até à coxa e enrodilhar o gabão até à mesma altura, preso pela cinta, de forma a deixar-lhes livre o movimento das pernas.
O custo destas peças de vestuário são os seguintes; camisa 32 escudos, trozes 64, manaia 25, cinta e barrete 15 cada peça (1).
O trajo da vareira compõe-se de blusa de algodão, em tons claros e geralmente bordada ou lavrada; saia da mesma qualidade, de diferente cor e padrão em estamparia; avental da mesma qualidade, mas geralmente em contraste de cor com a peça antecedente; algibeira de pano preto de lã, debruada a galão da mesma qualidade, atada pela altura das ancas, em volta destas por debaixo do avental, com fita preta; cinta ou faixa, igual à do pescador, xaile de lã, de padrões matizados; lenço da mesma qualidade e género, dobrado em triângulo e colocado sobre o chapelinho, este, é geralmente em feltro preto com aba bastante estreita debruado de fita de veludo preto e, em volta da copa muito baixa, uma fita de seda também preta que abrange a sua altura e remata com um pequeno laço no lado direito; a completar o trajo chinelas pretas, lisas, de cabedal envernizado, e completa ausência de meias.
No Inverno as peças de algodão são substituídas por outras de lã, de cor lisa; xaile mais espesso, igualmente liso; e usam meias de lã em cores claras, brancas de preferência, sem guarnição alguma.
Relativamente ao seu custo registam-se hoje os preços que seguem: blusa 17 escudos, saia 14,50, avental 14, algibeira 6.5, cinta 15, xaile 100, lenço 60, chapelinho 40, chinelas 100, blusa de Inverno 32, saia 30.5, xaile 200 e meias 12 (2).
Sempre que o marido embarca para a pesca em terras longínquas ou mesmo em busca de outros horizontes na miragem de economia mais ampla, costuma a vareira substituir o trajo por outro semelhante mas de cores escuras, aquela que melhor exprime a sua dor de ausência. E se no decurso do tempo o mar já não volta a traze-lo, como tanta vez acontece, enverga então o trajo negro que não volta mais a trocar pela cor.
Expressiva rubrica na psicologia admirável da gente da Beira-Mar.
(1) Em 1940: camisa 22.5, trozes 23.5, manaia 4.5 e 5. Tanto a cinta como o barrete; verifica-se assim um agravamento entre 40% a 200 % sobre o custo de então.
(2) Eram em 1940: blusa 8.5, saia 6.5, avental 6.5, algibeira 2.8, cinta 5, xaile 42, lenço 25, chapelinho 16, chinelas 45, blusa de Inverno 17, saia 15, meias 6; oscila portanto entre 100% a 200% mais, o seu custo actual.

FIM
Artigo publicado no Livro do XVIII Festival realizado em 6 de Julho de 2002.

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