domingo, 14 de junho de 2009

Origens do vocábulo "Gafanha" (parte I)

Qualquer estudo que se faça sobre a nossa terra, leva, inevitavelmente, os seus autores a debruçarem-se sobre as origens do vocábulo Gafanha, sem que até hoje alguém tenha chegado a qualquer verdade absoluta.
O autor destas linhas é, quase sempre, abordado para dar a sua opinião, quando é certo que não passa dum curioso pelas coisas da Gafanha e das suas gentes.
Temos de convir que faz parte do espírito de curiosidade das pessoas procurarem a etimologia dos vocábulos geográficos, sendo corrente encontrarem lendas na base de muitos.
A palavra Gafanha não escapa à dificuldade natural e ainda hoje não é possível saber-se concretamente a sua origem.
Para acicatar o gosto pela análise desta questão, aqui deixamos algumas hipóteses na esperança de que outros possam dar continuidade ao estudo que se impõe.
A Monografia da Gafanha do Padre João Vieira Resende, obra que viu a luz do dia, na sua segunda e última edição em 1944, continua a ser o trabalho mais completo sobre esta região das Gafanhas, não obstante terem passado 40 anos sobre a sua publicação. Nela afirma o Padre Resende que a palavra Gafanha teria derivado de gadanhar (cortar com a gadanha) uma vez que aqui havia bastante junco que os primeiros habitantes empregavam, não só nos currais dos animais, como nas próprias habitações.
Os primeiros gafanhões ou quantos por aqui gafanhavam, ou, melhor dizendo, gadanhavam, eram analfabetos ou semi-analfabetos, daí se justificando a troca do d pelo f. Aliás, isso sempre aconteceu na Gafanha, como, por exemplo, nos dias de hoje, quando se diz buano em vez de guano.
Diz o Padre Resende que a expressão "vamos à gafanha do junco" significava "vamos à gadanha (gadanhagem, corte) do junco". E diz, ainda, que o senhor Manuel das Neves, mestre não diplomado das primeiras letras, falecido em 1927, com 83 anos, na Gafanha da Encarnação, contava que "quando menino, vinham aqui, com frequência, umas mulherzinhas cortar e apanhar feno e junco que levavam para as suas terras e que, a esta acção de cortar com o foicinho, aplicavam o termo de gafenhar. Gafenhar e não gafanhar. "Corrompeu-se o termo das pastoras dos suínos, que levavam para Mira, Calvão, Lombomeão, etc., os fenos gafenhados por estes sítios.
(Continua)
Artigo da autoria do Prof. Fernando Martins, publicado no livro do 3º Festival Nacional de Folclore do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré que se realizou a 12 de Julho de 1987.

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