sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Joana Maluca 5

(Continuação)
Solícita em zelar os interesses materiais dos seus, não se esquecia também de providenciar às suas necessidades espirituais, garantindo-lhes assistência religiosa, como veremos quando tratarmos da capela e igreja paroquial.
Corriam felizes os dias da já então avó Maluca, e aos netos e bisnetinhos, que brincavam na areia que lhe cercava a casa, ia repetindo muitas vezes estrofes de encantadora suavidade. Era uma torrencial vasante de maré-cheia a iluminar novas almas com a luz dessa alma inundada de religioso misticismo, dessa alma que ternamente vivia unida com o seu Deus e O queria possuir ansiosamente. Ainda agora os velhinhos recordam saudosamente este seu delicioso cantar:

Nossa Senhora me disse                      Nossa Senhora me disse
que m'havia de dar um dote.                Que m'havia d'aparecer,
Se m'o há-de dar em vida                    Apareça-m'Ela agora
Dê-m'o na hora da morte.                    Qu'eu folgara de a ver.

E a cantar passava a sua longa vida, prestando-se a receber visitas de representação e dos fidalgos, a quem concedia palestras quotidianas, que se prolongavam até ao declinar esplendoroso do sol por detrás dos palheiros da Costa Nova, nas piscosas e mornas tardes de Agosto e Setembro.
Foto do blog Pela Positiva
E a faina do mar também vinha emprestar colorido ao quadro em pose das entrevistas dos categorizados e primitivos frequentadores da Praia com a velhinha da Gafanha.
In "Monografia da Gafanha" do Padre João Vieira Rezende.
(Continua)

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