terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Joana Maluca 4

(Continuação)
Em 1836, aos 48 anos de idade, já tinha contraído segundas núpcias com António dos santos Pata, e assentavam-se ao seu lar nove filhos, todos do primeiro marido, os únicos que teve e que eram o enlevo da sua alma, pedaços do seu coração. Para todos procurou um futuro desafogado, um bem estar compatível com as humildes condições em que nasceu. Não ignorava que o trabalho é inexaurível fonte de riqueza e, na ânsia de a adquirir, ia cultivando com afinco alguns pedaços de areia, de pousio, que o seu braço forte convertia em bom terreno, em searas de pão. E, efectivamente, ele não falhava na tulha nem no bornal, e de minguado que era a princípio tornou-se abundante e até cobiçado.
Tinha alargado a sua Fazenda e os seus haveres e a certa altura chega a ser proprietária, embora foreira, de toda a Quinta do Mato do Feijão.
Pode dizer-se que era uma rica proprietária e assim era considerada e tinha habitantes da sua terra, que nela tinham uma protectora. Desde então seus filhos eram pretendidos para casamento pelos mais abastados das redondezas, da Cale da Vila, dos de Portomar, e todos encontraram cônjuges nestes lugares.
Uma anedota focará a alma boa, ingénua, da Joana Maluca e o seu interesse pelo bem estar dos filhos. Manuel de Oliveira arrais, de Portomar, pastor habitual da Gafanha, pensou em namorar a filha colaça mais nova da Maluca, a Ana. Como a futura sogra resistisse aos importunos pedidos de casamento, O Arrais, um dia, sobranceiro à tulha do milho, faz derivar a conversa para o assunto que lhe interessava e, metendo as mãos ao cereal, fingindo de formalizado, com o punho cerrado, ameaçador, sai com esta: "é tão abastada e rica a casa de meu pai que à noite são tantas as luzes a iluminar a casa quantos os grãos de milho que tenho na mão".
Naquele dia a ingénua Gramata não pode resistir ao argumento do apaixonado mancebo e combinou-se o casamento, que deu origem à família Arrais. Afinal eram tantas as luzes quantas as bicas de pinheiro que à noite ardiam na pobre lareira do velho Arrais. Mas não mentia o arteiro do rapaz...
(Continua)
In Monografia da Gafanha" do Padre João Vieira Rezende.   

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