sábado, 26 de fevereiro de 2011

Infância 1

(Continuação)
O exemplo só serve para confirmar o muito que se passava para obter assistência médica.
Cada casal tinha em média seis a oito filhos. (…) Aos três anos começava a ajudar os pais: abana a canastra com o seu mais recente irmão, faz-lhe festas, põe-lhe na boca a chupeta e entretém-no enquanto a mãe ajuda o pai nas lides do campo. A mãe levanta-se cedo com o pai, recomendava o bebe ao filho e lá iam surribar a terra para batatas, cavá-la para semear milho ou apanhá-lo à foicinha para cascar…A partir dos seis anos já dava mais lucro que despesa. Descalço, de pila ao léu, com uma camisita de pano barato e um carapuço na cabeça, já tangia o boi ao engenho e desfazia lama na água, tomava conta da fogueira e preparava a comida do porco.
(….)
Mas era em casa que os pais iam, seguindo os hábitos tradicionais, educando religiosamente os filhos. A generalidade dos casais e com eles os filhos e os criados, se os havia, tiravam o chapéu e benziam-se antes de comer. Acabada a refeição levantavam-se, rezavam em Padre-Nosso e uma Avé-Maria, benziam-se e quase em uníssono pediam a bênção ao pai e à mãe, dizendo: “Bote-me a bença, Senhor Pai; bote-me a bença, Senhora Mãe”.
(…)
O nascimento do primeiro filho, não impedia a jovem mãe de acompanhar o marido nas lides do campo. De quando em vez vinha dar uma espreitadela. Quando julgava conveniente regressava para alimentar o bebé, cozinhar umas batatas com pele e peixe para o almoço do casal e dar de comer ao gado.
À tarde levava-o para a terra num berço ou canastra assistindo-o quando chorasse e dando-lhe mama. As mães jornaleiras faziam o mesmo sob os olhares compreensivos do patrão. Se já havia em casa um irmão mais velho ou criadita, era eles a quem se incumbia olhar pelo bebé que ia crescendo com o chilrear do passaredo, o cântico da irmãzita, ou o embalo da mãe. Quando maiorzitos, entretinham-se com outras crianças que acompanhavam as suas mães que prestavam serviço como jornaleiras ou a trocar tempo.
Cresciam com plantas do campo, observando os bezerritos a puxar o carro ou o arado e os pais a cuidarem de tudo. Lenta e paulatinamente iam-se familiarizando com os trabalhos do campo e adquirindo hábitos que perdurariam por toda ávida. Aos seis, sete anos já faziam jeito: acendiam o lume para cozer as batatas que a mãe deixava na panela antes de ir para o trabalho com o pai, desfaziam a lama para que a água não se perdesse pela regadeira, infiltrando-se no solo e tocavam o boi que puxava o engenho ou a carroça.
Entretidos no seio familiar só aos domingos à tarde lhes sobrava tempo que ocupavam com os amigos na procura de ninhos, nos jogos de bilharda e barra ou em disputadíssimos jogos de futebol com bolas de trapos.

Terrenos agricolas na Gafanha da Nazaré


Do livro "Gafanha da Boa Hora e o seu Povo" do Drº. Manuel Martins Costa.

Boas leituras.

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