A Saia
O tecido de que era confeccionada a primitiva saia da Gafanha, nunca passava pelas fábricas dos grandes industriais, nem pelos balcões das casas comerciais das grandes cidades, nem mesmo pelas mãos delicadas de costureirinhas profissionais. Tudo se preparava dentro daspróprias casas, cheias de fumo e desarranjadas. Tudo passava ao serão pelo fuso candente da jovem camponesa, de tez amorenada pelo iodo e pela torreira do sol. Tudo era martelado pelo tear, que gemia ao canto da casa nessas noites de serão, nessas noites de trabalho.
Na Gafanha abundavam sobremaneira os maninhos e os prados, e por isso não havia naqueles tempos, dizem, familia alguma que não possuisse três, quatro, cinco e seis ovelhas, que os mais novos da casa iam apascentar para ali. Com os primeiros calores do verão, o animal ofegava sob a lã farta e crescida. Tinha chegado o tempo da tosquia e o animal, amarrados os pés às mãos, sofria pacientemente os golpes da tesoura naquela operação demorada. Tirado o veldro que passava depois pela lavagem, era em seguida scrapiado, como eles diziam, cardado, fiado, tecido e finalmente posto em obra, o que tudo se fazia em cada casa nas noites de inverno. Em todas elas havia ao começar o verão grandes teias de lã, fraldilha ou serguilha, que depois, ou mesmo durante o inverno, eram postas em obra. Não havia alfaiates nem costureiras. As mulheres iam talhando e confeccionando, com as teias da casa, as mantas da cama, as saias, os mantéus, etc.
(Continua)
In "Monografia da Gafanha" do Padre João Vieira Rezende.
Até breve
Boas leituras
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