quarta-feira, 23 de junho de 2010

Superstições e Crendices - VI

– Ir à Bruxa
Quando algo não corria bem em casa, na família e até nos animais, quando uma doença estranha ou malzinho afectava um familiar por muito tempo, quando o azar batia à porta e as colheitas não fossem boas, e mesmo quando algum membro da família estava “em vistas” de arranjar emprego, logo se pensava em “ir à bruxa”, para que ela fizesse uma reza e preparasse uma “armação”.
A isto o povo chamava “ir correr bida”.
Por mando da mulher de virtude, que tudo sabia e adivinhava, até falava com os espíritos, faziam-se defumadouros, queimando arruda, alecrim, oliveira e incenso. Defumava-se toda a casa, os membros da família e, quando caso disso, os currais e os animais, dizendo nove vezes as seguintes palavras:
“Assim como Nossa Sinhora defumou seu amado Filho para cheirar, assim eu defumo o meu corpo, a minha casa, os meus parentes e tudo o que me pertence, p’ra que todo o mal d’inbeja, todo o mal rogado, requerido e impecido e todos os espíritos malignos possam de cá afastar pelo poder de Deus e do Santíssemo Sacramento do altar. Padre Nosso e Abé Maria”.
Pelo que ouvi muitas vezes e me foi confirmado, estes defumadouros faziam-se sempre durante nove dias consecutivos. Os restos ou cinzas juntavam-se todos e eram postos fora nas águas da Ria ou no Mar, na maré vazante, para que a corrente levasse o mal para o mar “acolhado”.
Outras vezes, a mulher de virtude dizia que uma “alminha do outro mundo” andava a apoquentar, pois morrera deixando uma promessa por cumprir. Então mandava ir a uma igreja levar azeite para as Almas, ou mandava rezar missas ou fazer uma outra qualquer penitência, para que quem viera do outro mundo encontrasse o caminho da Luz e da Paz,
Muitas vezes acontecia que, após a consulta com a dita mulher de virtude, a pessoa que a ela recorrera cortava relações com algum vizinho e até familiares, pois a bruxa tinha dito que lhe tinha muita inveja, que alguém lhe rogara “pragas”, desejando-lhe muito mal. Claro que não diziam nomes, mas sugeria que tinha sido alguém perto da pessoa. Na sua retórica dizia até que lhe tinham feito mal e propunha-se ir a casa para fazer lá uma reza e desmanchar o “bruxedo”.

– Os Lobisomens
Acreditava-se que estes seres existiam e que apareciam, logo após a meia-noite, em especial em noite de lua cheia e quando a lua fazia quarto.
Cria-se que eram homens como os outros, só lhes fora traçado o destino e por isso, tinham aquele “fado”.
Transformavam-se em lobos e uivavam. Mas não só, também tomavam outras formas como tripeças, carros, pipas, cães ou outro animal qualquer, conforme o primeiro rasto que o infeliz malfadado pisasse ao sair de casa ou ao chegar a uma encruzilhada, para cumprir e correr o seu “fado”.
Era uma sorte boa para ele se encontrasse alguém corajoso que o picasse ou ferisse até sangrar, tirando-lhe assim o “fado”. Contudo, essa pessoa não poderia ser atingida pelo sangue, pois se assim acontecesse, passaria então a carregar o “fado”, tornando-se lobisomem.
(Continua)

In “Gafanha…o que ainda vi, ouvi e recordo”, da Sr.ª Professora Maria Teresa Reigota.
Boas leituras
Rubem da Rocha

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