quinta-feira, 13 de agosto de 2009

As Gafanhas antes da Ria -6

Como se formou o chamado mar interior, era imperioso que se estabelecesse uma passagem entre o mar exterior e este, ou melhor, entre o mar e a ria. Essa passagem à qual se passou a chamar barra, viria ao longo dos vários séculos, a sofrer muitas alterações, quer de posicionamento, quer de condições de navegabilidade, influenciando assim, de maneira bastante acentuada, as condições de vida de toda a população ribeirinha. Assim, se a barra estava em boas condições, toda esta zona vivia uma época de grande prosperidade, fruto do comércio que então se gerava. Se pelo contrário, a barra estava em más condições, isto acarretava uma diminuição de prosperidade, poiso comércio decaía bastante, aumentando também o número de doenças, já que as águas estagnavam, originando focos de doenças, com por exemplo, peste e febres palustres.
Observando mais atentamente as diversas posições da barra ao longo dos anos, podemos ver que, esta teve posições extremas: A Norte, perto da Torreira e a Sul, em Mira, tendo durante outros períodos ocupado diversas posições, desde São Jacinto, até à chamada Quinta do Inglês, situada entre a Praia da Vagueira e Mira.
A chamada barra nova, que ainda hoje se mantém em funcionamento, viria a ser aberta em 1808, como resultado de todo um processo, que envolveu diversas petições da câmara de Aveiro à Rainha D. Maria I, que após ter mandado vir diversos engenheiros de países estrangeiros, verificou que estes nada conseguiam fazer. A situação mantinha-se, ou seja, a barra variava de posição consoante as vicissitudes do Mar e as condições do tempo, que abriam ou fechavam a barra, resultando daí um grande estado de incerteza entre toda a população, pois conforme atrás disse, as condições de vida variavam com o bom ou mau funcionamento da barra. Como exemplo posso citar o Prof. Orlando de Oliveira, que no seu livro “Origens da Ria de Aveiro” refere:
“A influência decisiva das condições físico-geográficas determinadas por esta volubilidade da barra determina o aparecimento de crises de crescimento de Aveiro, alternando com fases de progresso. Em 1348, a cidade quase ficou despovoada por efeitos de peste, a que se seguiram outros surtos com intervalos de cerca de 10 anos”. Noutro ponto da obra, continua o autor, “A barra fechava, as águas estagnavam, acumulavam-se, o paludismo surgia e uma boa parte da cidade de Aveiro alagava-se. De tudo isto resultavam situações de miséria, doença e abandono. A barra abria, as águas em excesso escoavam-se, as febres palustres desapareciam quase por encanto e com as facilidades de vida, voltavam a ocorrer populações transviadas”.
Como meros dados estatísticos, posso adiantar que em 1575, num período de esplendor de Aveiro, ou seja, em que a barra funcionava bem, a cidade atingiu a bonita soma de 14 000 habitantes, para em 1736, numa fase menos boa da barra, regredir até aos 5 300 habitantes.
Portanto, como se pode verificar por esta análise, a partir do momento em que se formou o cordão de areias, que viria a originar a Ria de Aveiro, as boas ou más condições de navegabilidade da barra, determinam em grande parte, as diversas alterações nas vidas das gentes que por aqui habitavam.

(Continua)

Boas leituras
Rubem da Rocha


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